A Monstruosas é uma iniciativa de combatividade, resistência, criação e agitação política em perspectiva antiheterossexista, anticissexista, anticolonial e interseccional, voltada para o encontro e fortalecimento das sexualidades e gêneros dissidentes.
A construção das masculinidades tóxicas e hegemônicas, perpassa, para nós, a virilidade, a falocracia, a intransigência e a insensibilidade. Isto precisa, além de ser questionado, hostilizado e confrontado, porque são nestes aspectos que se baseiam a deslegitimação dos comportamentos desviantes, das subjetividades, além das violências sexuais e de gênero que bichas, homens trans e não homens sofrem cotidianamente. Sendo assim, este evento é voltado para todes aqueles que não se sentem confortáveis com a imposição da masculinidade cisgênera e heterossexual (corpos víris, agressivos e não violáveis; penetradores universais e castrados de próstata), já que esta ocupa um local de proteção e privilégio exclusivo e supremacista. Ser hostil a homens cisheterossexuais, não significa deslegitimar as masculinidades trans e gay, pelo contrário, é entendê-las como um ponto de criticidade no que diz respeito a ser homem e como ameaça a soberania viril, representando o fracasso do controle biopolítico dos corpos.
Entendendo que toda experiência é única e que os grupos identitários não são homogêneos, sabemos que ao hostilizar a presença de homens cisheteros estamos tornado o espaço convidativo para certos grupos ao passo que excluímos outros. Porém, nos afastamos da concepção de luta individualista e liberal, comum na militância e/ou ativismo LGBT, pensando a questão de gênero e as sexualidades para além da perspectiva de afirmação das identidades. Desta forma, um evento anticissexista voltado para sexualidades e gêneros dissidentes não é capaz e nem tem interesse em contemplar todas as vivências a partir somente da congruência sob os locais de fala, já que muitas vezes eles são conflitivos entre si. Assim, não temos outra escolha se não priorizar algumas experiências em detrimento de outras a partir de uma ética política anti-hegemônica.
As pessoas que protagonizam e colaboram com o evento incluí mulheres trans e cis, sapatões, bixas, homens cis não heteros, homens trans, não bináries e outras performances de gênero monstruosas, que consideram que seus comportamentos expressos de maneira mais livre e a exposição de seus corpos, seja no audiovisual ou nas performances, possam ser objetificados, heterossexalizados e violados, caso o evento torne-se permissivo com a presença de homens cisheteros. Isto é, enfatizamos a não pertinência de homens cis héteros em nosso evento mesmo acreditando nas falhas de ajustamentos e nas contradições entre nós dissidentes, uma vez que estas devem ser repensadas de forma a não ofuscar, nem confortar as categorias políticas privilegiadas ou ainda trazer imunidade aos corpos historicamente constituídos a partir da intolerância, rigidez e abusos.
Espaços livres de identidades hegemônicas não implica necessariamente em um espaço seguro para as construções desviantes, pois nenhuma identidade está completamente imune para violar corpos produzidos como outros, uma vez que as opressões se entrecruzam e que os conflitos estão presentes em qualquer agrupamento animal.
Como ação política antihumanista, este evento repudia o heterossexismo e seu cistema antropocêntrico, enquanto regime político e visa a emergência e a propagação de manifestações corporais em desacordo com a normalidade. Por isso, entendemos que homens gays e trans, mulheres e lésbicas que se apropriam da virilidade, do falocentrismo e da performatividade cisheterossexual correm o risco de assimilar comportamentos opressores e extremamente violentos às dissidências, mesmo sendo violentadas em suas expressões de gênero e sua vivência sexual. Consideramos tóxicas essas atitudes opressivas, ainda que vinda de grupos dissidentes, esses comportamentos também não são bem-vindos.
Nesta direção convidamos todas as dissidentes para uma movimentação política que utiliza a arte como ferramenta de contestação às culturas normativas de sexualidade, gênero e resistência, em perspectiva anarquista, abordando vozes periféricas às indústrias da arte e do audiovisual e reunindo produções independentes do Brasil e América Latina.