09 e 10 de Junho Dois Irmãos explode Recife de tesões apocalípticos

Com uma programação intensa durante os dias 09 e 10 junho, a segunda edição do festival MoNSTRuoSaS trás para o bairro de Dois Irmãos, em Recife, atrações de cunho contestatório e combativo, organizado inteiramente de forma colaborativa e autônoma em perspectiva anticolonial e antiespecista, criando e experimentando no cotidiano a desobediência às ideias normatizadoras do Mercado, do Estado e do Cristianismo.

Como agitação política sexodissidente, o evento é uma propagação das abordagens críticas a cerca das questões sexuais e de gênero sob as noções de protagonismo político, autonomia e ressignificação de estigmas enquanto metodologia de rejeição às opiniões heterocapitalistas. Distantes das premissas do individualismo identitário, da representatividade moderna e da assimilação liberal, nossa monstruosidade nomeia a norma, deslegitimando-a partir de nossos conhecimentos-bombas construídos nos lixos, no pecado, na bizarrice, na anormalidade, na violência, nas matas, na loucura e no medo. O encontro com a vida das monstras põe em cheque as ficções da humanidade heterocivilizada, que se assustam ao ver que seus pudores, controladores de comportamentos e mentes, são prazeres e liberdade pra seres distintos, eis o perigo das nossas existências.

Na sexta, 9 às 13h, o evento ocorre todo na Dhuzati. A Oficina Montaria Themônia Anticivilizatória com Sarita de Gzuis, marca o início do festival.  Baseada num conceito antiespecista de montaria, com recicle do lixo urbano e matéria orgânica coletada, a oficina visa a metamorfose do corpo humano incorporando nele galhos, folhas, cipós, chips, cobre, sementes, ferro, plástico, entre outros, inspiradas por culturas ancestrais.

As 17hrs tem início o Lançamento do Livro A Porca Punk – Ensaios de um feminismo lésbico, gordo, anticapitalista e antiespecista, com Missogina, escrito a partir da gordura, para politizar a ferida, visibilizar a cicatriz e narrar a dor transformando-a em prazer. E os Lançamentos dos Zines Como chupar um homem trans, Ódio aos Héteros, Feminismo de tomar armas, Por uma vida sem HIV, Ai Ferri Corti, Transfeminismo Insurrecional, Sapatoons, Masturbação Mental e Seis teses sobre ansiedade no capitalismo, além do projeto de “outra pornografia possível” para as ruas: Agitporn.

As 19hrs inicia a sessão Mostréias Monohistéricas trazendo os vídeos inéditos da MoNSTRA – Mostra Nordestina de Sexualidades e Travestigeneridades em Resistência no Audiovisual Articulada com o Pornífero Festival, a FILMARALHO e o Coletivo Coiote, em perspectiva anarquista, a mostra utiliza a arte como ferramenta de contestação às culturas hegemônicas de sexualidade, gênero, abordando vozes periféricas às indústrias da arte e do audiovisual e reunindo produções independentes do Brasil e América Latina.

Referência da Oficina Montaria Themonia Anticivilizatoria, crianças Surma do sul da Etiópia, realizam incríveis pinturas em seus corpos com pigmentos naturais extraídos de minerais e vegetais.
Conjuro Sapatânico, estreia na sessão monstréias monohistéricas da MoNSTRA
Para Valeria Flores, ativista lésbica chilena, A Porca Punk é um brilho insubmisso que irradia a gordura de uma proletária da beleza e saúde para reinventar o pensamento normativo.

No sábado, 10 as atividades iniciam as 14h na Dhuzati, com o eXXXcitades, que trás a proposta de refletir as nossas práticas sexuais numa perspectiva dissidente e antiheterossexista, a abertura fica por conta de Amanda Palha e Leonardo Tenório compartilhando experiências de trabalho sexual na roda de diálogos Sexo, Prostituição e Exotização dos corpos trans,  logo após, apresentação de La Makina X Xperimentus Stérikus de Menstruosidads Transviadas de Wyrá Potyra, encerrando com a esperada Oficina de Shibari e Bondage facilitada por Missogina, compartilhando aspectos teóricos e práticos sobre as técnicas de amarração, imobilização e bondage. Durante todo o dia Aline Veloso estará aplicando piercings além de sessões de tatuagem com Porca Flor e Ziza Tatu.

Leonardo Tenório, Wyrá Potyra e Amanda Palha, no eXXXcitades
Shibari com Missogina

As 21:30h a pista de dança do Espaço OVNI vira barricada pornoterrorista contra o heterocapitalismo. A Danzando en Revolta, apresenta corpos como arma bélica e a música como ruído da queda da civilização, para que nossas existências possam dançar em revolta. Com apresentação pirata e clandestina de Anarkofunk e lineup de Hectamonstra (vinhetas anticivilizatórias), Paulet Lunatica Lindacelva (discohouse, afrohouse, nudisco), Sarita de Gzuis (tecnobrega, bregapop, cumbia e tupinikuirzices), Rastafraude (afrobeat, trap music e kuduro), além das video projeções dançantes e tecnorgásticas de Kimberly Lindacelva

Como grandes atrações desta catalisação de encontros, a noite ainda conta com a apresentação das performances A Punição dos Anjos de Edilson Militão, Pornobalismo de Juma Marruá e Modos de Fazer Sabão de Kalor Pacheco

Edilson Militão em Tanatopraxia
Kalor Pacheco em Tecnologia a serviço da orgia

Durante todo o evento bancas de comida, bebidas, cerveja sem milho transgênico e cachacinhas artesanais, além das bancas com material gráfico da Distro Dysca, kumbayá, brechó, cadernos artesanais e materiais das Bixas Arteiras. Tudo absolutamente vegano, sem cadáver e sem estupro.

Com foco nos tesões apocalípticos que gozam nas ruínas da heterossexualidade compulsória e da família nuclear androcentrada o festival Monstruosas é inteiramente voltado para o encontro e fortalecimento das sexualidades e gêneros dissidentes. Estamos em guerra. Evocar os santos, as armas, a mídia e as instituições do inimigo só irá criar novas margens e estimular a disputa entre nós mesmas por um reconhecimento heterocapitalista e civilizado. Nossa liberdade sexual e de gênero, pede criação de contra-prazeres e contra-sexualidades que fisurem micropoliticamente a ordem das identidades que a heterossexualidade enquanto regime criou biopoliticamente.

EVENTO NÃO ABERTO PARA HOMENS CIS HETEROSSEXUAIS: As pessoas que protagonizam e colaboram com o evento incluí mulheres trans e cis, sapatões, bixas, homens cis não heteros, homens trans, não bináries e outras performances de gênero monstruosas, que consideram que seus comportamentos expressos de maneira mais livre e a exposição de seus corpos, seja no audiovisual ou nas performances, possam ser objetificados e violados pelas maculinidades tóxicas

MoNSTRuoSaS
Tesões Apocalípticos nas Ruínas do Heterocapitalismo

09 e 10 de Junho
Dhuzati Coletiva Antiespecista Artesanal
Espaço Ovni
Dois Irmãos, Recife – PE