Fera Livre e Monstruosas lançam livro de Bruna Kury e Mogli Saura

Tendo como mote a celebração festiva que marca a incidência das políticas contrasexuais nos anos 2000, as artistas e ativistas Mogli Saura e Bruna Kury lançam pela Monstruosas e Fera Livre uma publicação conjunta marcada por fechamentos de ciclos e abertura de outros horizontes possíveis.

A obra conta com dois textos, “A pósporonografia como arma contra a maquinaria da colonialidade” de Bruna Kury e Modos artísticos em intersecções ecológicas: eco-monstruosidades pelo fim do mundo humano, entre povos da terra e grupos dissidentes” de Mogli Saura, ambas protagonistas de uma cena contracultural radical anticapitalista iniciada no Rio de Janeiro e que trilhou pelo anarquismo, circo, queer e punk nos contextos de ocupações, atos, intervenções e protestos, fortemente caracterizadas pelo questionamento incisivo à arte e à política institucional e as organizações burocráticas que anulam o protagonismo em função da representação.

Bruna Kury na performance “Gentrificação dos Afetos” Foto: André Medeiros Martins
Mogli Saura e Bruna Kury

Entendendo a performance e a criação estética enquanto máquina (e tática de guerra) Bruna e Mogli vivenciaram juntas ações-direta com o Coletivo Coiote (criado por Bruna) e o Anarcofunk, espalhando um adubo fértil para a emergência das críticas raciais, antisexistas e ecológicas, além de abrir fissuras nas organizações políticas anticapitalistas inteiramente circunscritas pela branquitude, cisgeneridade e heterossexualidade, denunciando suas operações conservadoras e trazendo conflitos inevitáveis ao localizar as impossbilidades de contrução de emancipação sob bases tão coloniais.

Mogli Saura nos bastidores do evento Mulheridades no Centro Cultural Tendal da Lapa. Foto: Warley Noua e Francis Etto

Também Seguiram ativas em diversos movimentos luta, como ocupações de moradia, centros contraculturais e retomadas de territórios ancestrais indígenas e negros, sendo protagonistas da efervecência anarcakuir de seu tempo fomentando práticas, posturas e ideias que se desdobraram em diversas iniciativas dissidentes.

Lançado também como zine pela Monstruosas, “A póspornografia como arma contra a maquinaria da colonialidade” segundo a propria a autora “pode atuar em diversos âmbitos pessoais e coletivos, tanto como manifestação política de ação direta como é o pornoterrorismo, mas também na desfetichização de corpos subalternalizados, trazendo pra roda o prazer e a descolonização das corpas enquanto revolucionário.”

Já a obra de Mogli e sua ecologia-interseccional, faz da encruzilhada seu ponto fundamental, trazendo sua leitura e experimentação ancestral, permacultural, artística e decolonial na maneira como identifica processos ecológicos em manifestações estético-políticas e (anti)artísticas, sendo estas praticadas por existências, anticivilizatórias, gênero dissidentes, étnicas e racializadas, nos contextos de luta por autonomia comunitária e anticapitalismo, entendendo a ecologia como campo de intersecção nesse processo.

O livro ainda marca a primeira publicação dos selos Fera Livre e Monstruosas e conta com o texto de abertura da artista Pêdra Costa, uma das primeiras a trazer as questões queer para o Brasil com seu projeto de funk queer punk ‘Solange, tô aberta!’

O primeiro evento de lançamento da obra, acontecerá na Casa do Povo, a partir de 12h, em São Paulo e contará com a Feira de Arte Travestigenere com exposições de Armr’ore, Auá Mendes, Bruna Kury, Dandara, Duda, Gabú, Fito Sazonal, Gil Porto Pyrata, Jane Alves, Laz Raphaelli, Lu Recicla Alimentos, Macramexias, Marcos Vinicios, Nathê, Rao Freitas, Shukykanraty, Rudá Terraboa e Uarê Erremays, além da exibição do filme Gentrificação dos Afetos de Bruna Kury

SERVIÇO
Lançamento do Livro “Modos artísticos em intersecções ecológicas: eco-monstruosidades pelo fim do mundo humano, entre povos da terra e grupos dissidentes” de Mogli Saura e “A pósporonografia como arma contra a maquinaria da colonialidade” de Bruna Kury, selo Fera Livre e Monstruosas
Casa do Povo – Rua Três Rios, 252, Bom Retiro, São Paulo/SP
20/11/2021
12h

KUCETA (póspornografias): Festival de cultura e política sexodissidente em São Paulo

No próximo 16 de junho acontece no Estúdio Lâmina em São Paulo, o festival de cultura e política sexodissidente “KUCETA (póspornografias)”. O evento é protagonizado por corpos negros, trans, soropositivos, sexomarginalizados, desviantes e construído sob a perspectiva de apoiar e fortalecer uma comunidade e uma rede formada por pessoas que contrariam, combatem e são vítimas da norma, moral e economia heterocapitalista.

O evento também é um marco que promove o choque estrambólico entre a Solange Tô Aberta de Pedra Costa, a batucada de Gil Porto Pyrata, ex-Putinhas Aborteiras e o Anarcofake, dissidência antiheterossexista do Anarcofunk, de Mogli Saura, em uma das 5 perfoshows da noite. O momento é aguardado por representar um encontro de criações que embalaram e inspiraram a emergência de políticas combativas e radicais em torno das sexualidades bizarras, anormais e políticas monstruosas desde o início dos anos 2000


Performances, filmes, feira libertária com bancas de zines, roupas, sex toys, comidas vegetarianas, dvds pornopirata e artes serigrafadas, além de flashs de tatuagens entre 50$ e 100$ com Trava Tatueira, lançamento do zine Siririca e o debate “O que faz de uma relação sexual” com Caróu Oliveira Diquinson, trazendo uma reflexão sobre quais são as perspectivas anarquistas nas disputas de narrativa sobre sexualidade feminina.

A entrada no evento custará 15$ e o arrecadado será compartilhado com as organizadoras e artistas que participarão do evento, PORTANTO NÃO SERÁ ACEITO CARTÃO. A organização frisa que também não tolera atitudes machistas, racistas, misóginas, transfóbicas, conservadoras, julgadoras, gordofóbicas, lésbofóbicas, meritocratas, nacionalistas, moralistas, xenofóbicas e putofóbicas e que o evento também pauta privilégios sistêmicos e marginalidades, ressaltando a importância da redistribuição financeira e fortalecimento das corpas afetadas.

KUCETA (póspornografias)

Inspiradxs em festivais como Muestra Marrana, Bienal de Arte e Sexo Dildo Rosa, Pornífero, Anormal Festival, Arrecheras Heterodisidentes, Monstruosas, etc; pretendemos exibir algo do que tem sido produzido em relação a sexualidades não normativas, em nossa rede pós-pornográfica. Queremos estar juntas em dissidências, articulando nossas guerrilhas ao que nos massacra, mostrando nossas artes, táticas, anti-artes e lutas para não sucumbirmos ao cis-tema(!), para gozarmos, termos prazeres contra hegemônicos e inventar novos prazeres contrassexuais. Nossas cucetas estão em festa, e vamos dedicar esse encontro pra elas!

Usamos o pós porno como ferramenta anticapitalista para potencializar nossa máquina de guerra e metalhar em todxs nossa política anarquista!

É sobre dedicarmos esse encontro a abrir-nos e a preencher de sentidos e diversidades em pulsação, mas óbvio que também rebolaremos nossas rabas até o chão, chão chão.

A programação ainda conta com a instalação Do desejo“, de Gabriela De Laurentiis, a exposição Pornografia Analítica – superinterpretações críticas” de Paulx Castello e uma excitante mostra de vídeos, exibindo trabalhos que já circularam em eventos de sexualidades anormais em âmbito nacional e internacional, além de títulos ainda não tão conhecidos,

PERFORMANCES:

DANI BARSOUMIAN
Artista, feminista autônoma e pesquisadorx do corpo, utiliza a arte da performance para investigar questões relacionadas as construções de identidades.

GIL PORTO PYRATA
Pessoa trans não binária, artista de rua, palhaço freak, anarktransfeminista e terrorperformer, pesquisa pósporno e masculinidades combativas ao heterocispatriarcado, usando linguagens experimentais que circulam entre circo/dança/yoga/textualidades.

RAO NI
Viado do corre autônomo, trabalha com montagem de vídeo, som e desenho.

GORDURA E SUJEIRA
Palhaçxs periféricxs, que transgridem fronteiras, a cultura circense e a cultura das bixas travestis sapatonikas se unem e a tradição perde sua norma.

JOÃO GQ:
Formado em realização audiovisual na Universidade do Vale do Rio dos Sinos em 2012, já foi sócio da produtora audiovisual Avante Filmes entre 2011 a 2013. Em 2015 ingressou no Grupo Experimental de Dança de Porto Alegre e desde então vem pesquisando intersecções entre [corpo + tecnologia + política] e [arte + educação + saúde]. Ainda colaborou com os coletivos: Poro Audiovisual, Coletivo Moebius, C4 Performance em Conjunto, Sapedo Arte Menor e festivau de C4nn3$.

SUE NHAMANDU VIEIRA
A Pornôklasta, Professora de filosofia por mais de 13 anos, performer e ativista transfeminista pró-sexo.

MOGLI SAURA
Artista da fome. Experimenta e cria a partir das ruínas, da rua, do lixo e do mato. Em seu processo de criação compõe, performa, dança e toca. Tendo como ponto de partida a contracultura e a antiarte como referência biológica. Se fez conhecer por suas composições e gravações dentro do coletivo Anarcofunk e pelas performances-rituais em Kaos Dança Butoh. Suas (des)obras são pautadas por questões bio-politicas, existenciais, filosóficas e místicas colocando ancestralidades sem origem, gêneros dissidentes, re-existencias psico-nômadas e anarquias mágicas para rizomar e jogar com as estruturas binárias, rígidas sistemáticas afim de devir (im)possibilidades. da pós-pornografia a palhaçaria, da arte mambeibe a body arte, do funk carioca a musica artesanal campesina mexicana, do butoh ao swing de fogo, do terror ao amor.

BRUNA KURY:
Anarcatransfeminista, performer, pesquisa kuir sudaka no cotidiano e já performou com a Coletiva Vômito, Coletivo Coiote, La Plataformance, MEXA e Coletivo T. Pirateia e faz pósporno e pornoterror. Desenvolve performances/ações diretas contra o cis-tema patriarcal heteronormativo compulsório vigente e a opressões estruturais (GUERRA de classes), principalmente em lugares de crise. Recentemente participou da residência no Capacete (RJ) e do Festival Internacional de Postporno Anormal em Ex-teresa (México).

CAMILA VALONES
É artista-poeta-total. Trabalha entre paisagens plásticas e sonoras, textos, táticas, objetos, seres, fazeres, teatro e performances. Integra desde 2015 a companhia de TEAT(R)O OFICINA UZYNA UZONA. Em 2013 foi premiada pelo Prêmio Itamaraty de Arte Contemporânea. Já teve o seu trabalho exposto em diferentes estados do Brasil e em Quito, no Equador, onde apresentou a peça sonora (l)A Selva.

DESIRE GONZALES

LUA LUCAS
Atuou como atriz junto com o Coletivo T, katita problematizadora na empresa A Revolta da Lâmpada e fortalecedora na empresa Cursinho Popular Transformação

PAULX CASTELLO
Bixa putx transudaka performer e quase varias outras coisas, pósgraduada em pospornografia e desejos contrasexuais pela DIY Univérsity of Você Mesme con Amigues”.

PERFOSHOWS

SOLANGE, TÔ ABERTA
STA! é o fracasso da hetero/homonormatividade: festejar as margens e comemorar a precariedade. STA! é a música pirata, é o fracasso da arte!!! STA! é um buraco que todo mundo tem!!!

VENTURA PROFANA E JHONATTA VICENTE
Ventura Profana e Jhonatta Vicente resgatam vestígios de uma educação evangélica, criando um paralelo entre o genocídio TLGBs e a crucificação de Cristo.

ERIC OLIVEIRA
Integra o Baile em Chernobyl, coletivo de bixas degeneras, periféricas, que correm do patriarcado e atacam com som e performance.

ANA GISELLE
Transalien, monxtra, estranha, vespertine, improferível, idiossincrasia, unlimited spirit, creature of the night

ANIMALIA
Experiência sensorial de estímulo/imaginação por meio de diálogos entre imagem, som e performance.

SERVIÇO
KUCETA (póspornografias)
Sábado, 16 de Junho – 18h
Estúdio Lâmina, Av. São João, 108