Fera Livre e Monstruosas lançam livro de Bruna Kury e Mogli Saura

Tendo como mote a celebração festiva que marca a incidência das políticas contrasexuais nos anos 2000, as artistas e ativistas Mogli Saura e Bruna Kury lançam pela Monstruosas e Fera Livre uma publicação conjunta marcada por fechamentos de ciclos e abertura de outros horizontes possíveis.

A obra conta com dois textos, “A pósporonografia como arma contra a maquinaria da colonialidade” de Bruna Kury e Modos artísticos em intersecções ecológicas: eco-monstruosidades pelo fim do mundo humano, entre povos da terra e grupos dissidentes” de Mogli Saura, ambas protagonistas de uma cena contracultural radical anticapitalista iniciada no Rio de Janeiro e que trilhou pelo anarquismo, circo, queer e punk nos contextos de ocupações, atos, intervenções e protestos, fortemente caracterizadas pelo questionamento incisivo à arte e à política institucional e as organizações burocráticas que anulam o protagonismo em função da representação.

Bruna Kury na performance “Gentrificação dos Afetos” Foto: André Medeiros Martins
Mogli Saura e Bruna Kury

Entendendo a performance e a criação estética enquanto máquina (e tática de guerra) Bruna e Mogli vivenciaram juntas ações-direta com o Coletivo Coiote (criado por Bruna) e o Anarcofunk, espalhando um adubo fértil para a emergência das críticas raciais, antisexistas e ecológicas, além de abrir fissuras nas organizações políticas anticapitalistas inteiramente circunscritas pela branquitude, cisgeneridade e heterossexualidade, denunciando suas operações conservadoras e trazendo conflitos inevitáveis ao localizar as impossbilidades de contrução de emancipação sob bases tão coloniais.

Mogli Saura nos bastidores do evento Mulheridades no Centro Cultural Tendal da Lapa. Foto: Warley Noua e Francis Etto

Também Seguiram ativas em diversos movimentos luta, como ocupações de moradia, centros contraculturais e retomadas de territórios ancestrais indígenas e negros, sendo protagonistas da efervecência anarcakuir de seu tempo fomentando práticas, posturas e ideias que se desdobraram em diversas iniciativas dissidentes.

Lançado também como zine pela Monstruosas, “A póspornografia como arma contra a maquinaria da colonialidade” segundo a propria a autora “pode atuar em diversos âmbitos pessoais e coletivos, tanto como manifestação política de ação direta como é o pornoterrorismo, mas também na desfetichização de corpos subalternalizados, trazendo pra roda o prazer e a descolonização das corpas enquanto revolucionário.”

Já a obra de Mogli e sua ecologia-interseccional, faz da encruzilhada seu ponto fundamental, trazendo sua leitura e experimentação ancestral, permacultural, artística e decolonial na maneira como identifica processos ecológicos em manifestações estético-políticas e (anti)artísticas, sendo estas praticadas por existências, anticivilizatórias, gênero dissidentes, étnicas e racializadas, nos contextos de luta por autonomia comunitária e anticapitalismo, entendendo a ecologia como campo de intersecção nesse processo.

O livro ainda marca a primeira publicação dos selos Fera Livre e Monstruosas e conta com o texto de abertura da artista Pêdra Costa, uma das primeiras a trazer as questões queer para o Brasil com seu projeto de funk queer punk ‘Solange, tô aberta!’

O primeiro evento de lançamento da obra, acontecerá na Casa do Povo, a partir de 12h, em São Paulo e contará com a Feira de Arte Travestigenere com exposições de Armr’ore, Auá Mendes, Bruna Kury, Dandara, Duda, Gabú, Fito Sazonal, Gil Porto Pyrata, Jane Alves, Laz Raphaelli, Lu Recicla Alimentos, Macramexias, Marcos Vinicios, Nathê, Rao Freitas, Shukykanraty, Rudá Terraboa e Uarê Erremays, além da exibição do filme Gentrificação dos Afetos de Bruna Kury

SERVIÇO
Lançamento do Livro “Modos artísticos em intersecções ecológicas: eco-monstruosidades pelo fim do mundo humano, entre povos da terra e grupos dissidentes” de Mogli Saura e “A pósporonografia como arma contra a maquinaria da colonialidade” de Bruna Kury, selo Fera Livre e Monstruosas
Casa do Povo – Rua Três Rios, 252, Bom Retiro, São Paulo/SP
20/11/2021
12h

Majur Traytowu, cacique trans Boe Bororo pede apoio para levar jovens indígenas para aldeia Balatiponé-Umutina

Majur Harachell Traytowu – Cacique Boe Bororo, Mulher trans, modelo e Atriz do filme “Majur”

A cacique Boe Bororo Majur Harachell Traytowu, da Aldeia Apido Paru, localizada na Terra Indígena Tadarimana, em Rondonópolis — MT, pede apoio para combater a depressão da juventude em evento de mobilização e articulação de povos indígenas. A interação entre aldeias sempre foi uma bandeira da cacique Majur Harachell Traytowu, de 30 anos, mulher trans, que herdou do pai o posto, após ele se afastar por problemas de saúde.

Majur, que questiona seu gênero desde pequena, destaca o respeito e apoio em relação a transição de gênero dentro de seu povo e nas aldeias que mantem contato. Também vê a importância disso nos processos de transgeneridade e transsexualidade que afloram em outros jovens e adolescentes de seu povo.

Preocupada com a autoestima e saúde mental da juventude indígena a cacique Majur planeja a ida para a aldeia Balatipone-Umutina em Barra dos Bugres, de 12 a 15 de novembro de 2021, o local fica a aproxidamente 400km de distância de Rondonópolis. Sua expectativa é conseguir ajuda para a contratação de um ônibus e levar 50 jovens a um evento local de jogos e celebração da cultura indígena. A articulação também tem importância política e visa o fortalecimento e união dos Balatipone-Umutina e Boe Bororo, frente ao terrível contexto de violência ambiental, cultural e territorial contra os povos indígenas, sobretudo do centro-oeste, região onde a expansão do agronegócio ocorre de forma acelerada, destruído biomas, territórios sagrados e exterminando animais não humanos domesticados e selvagens.

Contudo, os dois povos tem ligação histórica, além da conexão no tronco linguístico macro-jê, no passado o povo indígena Balatiponé-Umutina fazia parte da etnia Bororo, porém, em determinado momento, vítimas da expansão colonial, afastaram-se do grupo principal e migraram para a região de encontro do rio Paraguai com o rio Bugre.

Região de encontro dos Rios Paraguai e Bugre no MT onde se localiza a TI Balatiponé-Umutina, na parte superior a direita da foto

O evento organizado pelos Balatiponé-Umutina, além de representar um resgate ancestral tem na participção dos Boe Bororo uma estratégia de preservação das dimensões da espiritualidade e da cosmologia destes povos. De acordo com o Mapa da Violência de 2014, a saúde psicosocial dos povos indígenas merece atenção redobrada, dos 68 óbitos de indígenas, entre 2008 e 2012, 51 eram jovens, onde o suicídio e o assassinato são as principais causas. A eterna luta pela efetivação dos direitos e pela afirmação da identidade perante a nossa sociedade, são questões que precisam ser observadas pela temática do adoecimento mental, na perspectiva da saúde pública.

Para apoiar a cacique Majur e os povos Boe Bororo e Balatiponé-Umutina, você pode realizar uma transferência bancária para:

Gilmar Trayto
655 – Neon Pagamentos
PIX: 05982034193
AG: 0655
CC: 9219157-6

Ménage a Coiote, videoclip na Plataforma EHCHO

NO AR
VideoClip: Ménage a Coiote.
Anti-Projeto Anarco Fake com Coletivo Coiote

O videoclipe da homenagem/menáge está disponível na plataforma ECHO:
https://ehcho.org/conteudo/mogli-saura-menage-a-coyote

“Anticivilizar o presente é uma evolução ancestral. ‘Ménage a Coiote’ é mais que uma homenagem. É a atualização de re-existências combativas por meio da memória e da conexão.

O Anti-Projeto Anarco Fake atualiza suas potências e compartilha com suas afins ao cantar histórias e cartografar os rastros que o Coletivo Coiote deixou. Ao evocar a força coiotêra conectamos todo seu aspecto mítico, nômade e criminal à poética banditista que em 1994 modernizou o passado cangaceiro.

Nesse Ménage (que na verdade é um surubão) Mana Joaquina chupa a bucêta da Maria Bonita, Chico Science lambe cu de Lampião e o troca troca troca segue o flow dos nossos tempos, embalado pela coragem degenerada do Anti-Projeto.

Anticivilizar é o mote. Buscar instruções para o fim do mundo-humano enquanto fazemos a travessia para uma nova era de utopias radicais, baseadas no que se tem para o agora. Muites não entenderam, outres jamais entenderão. Foda-se.
Denuncia, Criação, Memória, Afronta, Vida, Morte, Violência, Ruptura e Gozo Dissidente: Ménage a Coiote!

Por Mogli Saura

https://ehcho.org/conteudo/mogli-saura-menage-a-coyote

Anti-Projeto AnarcoFake, o acerto de contas de Mogli Saura com o ativismo político radical

O ano é 2011 e o evento era uma varieté na okupa anarkopunk Flor do Asfalto, localizada na região portuária da cidade do Rio de Janeiro, talvez a okupa com mais representação sexodissidente no Br$il e onde estes debates pareciam mais amadurecidos, sem negar a existência de uma apropriação desonesta para os machos anarquistas pagarem de não opressores. Enquanto Mogli Saura se pendurava em tecidos, rolava funks no lounge de um imóvel em ruínas, cercado de comida reciclada, barracos, biritas artesanais, além de uma composteira de bosta e outra de vegetais ao fundo. Este era o cenário de aquecimento de uma apresentação inesquecível do anarcofunk, a ser estragada por um macho punkeca, visitante da Disney World, que ao se sentir escanteado na balada e ouvir o “vou liberar geral, amar a quem quiser” do AnarcoBrega, iniciou uma porradaria contra duas pessoas que trocava carícias sem ele.

Este fato dá o tom sobre como ao mesmo tempo em que se tentava vivenciar práticas dissidentes e antinormativas tinhamos que lidar com comportamentos clichês de homens héteros brancos, filhos da burguesia, mas crentes que tinham rompido com seus privilégios. De lá pra cá muita coisa mudou, conflitos intensos sobre reproduções cisheterosexistas implodiram e deslegitimaram a honra radical das okupações anarkopunks no Bra$il e trouxe para o ativismo sexodissidente importantes contribuições que reverberam até hoje na construção de suas próprias perspectivas e sobretudo na ativação de uma rede que consipra, rebola e sobrevive enxergando no fracasso uma espécie de potência nutridora do caos permanente, necessário para as mudanças que almejamos aqui e agora. 

É com esta energia inebriante que propômos a Mogli, uma das figuras mais emblemáticas das movidas anarquistas, punk e queer dos anos 2000 no Brasil, uma entrevista exclusiva que revive toda esta história e publiciza uma agitação que ficou oculta durante boa parte da década passada, porém viva, contaminando vários fazeres e servindo como inspiração para outras construções. Aqui vocês podem conferir apenas uma parte da entrevista, nela a artista caga em toda pureza que a radicalidade prega pra si, deixando rastro de merda nas convicções que estas políticas colonialistas pregaram como verdade. A versão completa desta conversa estará no zine que será lançado dia 01/08 e distribuído para todo país pela Distro Dysca.

“Celebrar o lançamento do primeiro EP do Anti-Projeto Anarco Fake faz remeter as forças e movimentos que o levaram a ser como é neste exato momento. Se refere a todo um contexto queer contracultural que chegou até mim em 2008 e hoje se desdobrou na recente cena cultural, pop e mainstrean representativa.”

Mogli Saura
Mogli Saura, é protagonista do Anti-Projeto Anarco Fake e uma das figuras mais emblemáticas das movidas anarquistas, punk e queer dos anos 2000 no Brasil

Monstruosas: Conhecendo um pouco a história do projeto e atenta aos contextos políticos que ele está atrelado e se inspirou, é possível dizer que ele também é sobre uma atualização crítica a respeito das decepções, contradições e apego à uma pureza de cunho religioso presente nos ativismos políticos radicais?

Mogli Saura: Sim com certeza.
C
omo digo é o meu acerto (para não dizer fechamento) de contas com os movimentos ditos radicais que vivi. Essa atualização começa sua cartografia em 2012 (com o verdadeiro rap do fracasso) e vai até os dias de hoje se desdobrando em processos descoloniais mais aprofundados (que ainda vou gravar), para além das fronteiras da radicalidade. Vejo que muita coisa mudou desde 2012. Começamos a identificar e afrontar a norma estrutural desde dentro dos movimentos ditos radicais. Isso gerou uma série de dissidências e a partir daí foram surgindo iniciativas que deram conta de sacudir as estruturas, criar (e destruir) espaços, formar redes, fazer encontros, enfim. Esse movimento de dissidência das/nas comunidades dissidentes (crítica da crítica) e abertura para (outras) experimentações comunitárias pautadas em questões mais locais como raça, etnia e gênero, entre outras, possibilitou uma sutilização da percepção sobre a questão das radicalidades evocadas, e o que isso poderia significar. A ideia do inimigo exterior e a “escolha” das demandas a serem pautadas – sempre externas, eternas e distantes, com um tom romântico, heroico e trágico, típico da maior parte dos ativismos – começou a ser cogitada a não estar sempre em primeiro plano. Passou-se a olhar mais para a questão da importância do cuidado e do cotidiano como elemento (fundamental ao meu ver) de re-existência. Passou-se a perceber (um pouco mais) os limites aos quais estamos emaranhades, o quão ardilosa e complexa é a lógica colonial, e como “ninguém” “nunca” esteve fora de nada (leia-se “o sistema”).

Eu venho pautando essas discussões desde 2009 tendo algumas ressonâncias aqui e ali. Obvio que essas mudanças ocorreram a custo de muita desilusão e ruptura. Não foi fácil para a maioria das pessoas envolvidas nos processos. Basta olhar ao redor e pensar nos coletivos todos que acabaram de formas péssimas, com histórias de violência típicas da família tradicional, com todo tipo de treta que se possa imaginar. Toda uma série de coletivos que desde 2005 vinham se construindo com base em relações profundas de extrema confiança, que projetavam a vida em conjunto, que viviam sob ideais semelhantes. Eu fiz/faço parte disso. E embora desde sempre estivesse alertando de (modo irônico mas sério) sobre a importância de questões como a preservação do fracasso como parte do plano, também padeci em alguma medida do fracasso geral de nossos esforços. Mas é esse fracasso que me traz até aqui – por que agora cada qual tem que dar seus pulos para sobreviver no capitalismo fora das comunidades e relações que estruturaram e possibilitaram outros modos de vida anti sistema. Nessas eu acabei assumindo aquilo que negamos e criticamos o tempo todo, ao me produzir enquanto mercadoria (de modo espetacular, acima de tudo). A antiarte sempre foi meu modo de existir dentro desses movimentos, tensionando, questionando, experimentando, refazendo, propondo… Hoje ela tem sido meu modo de sobreviver no mundo do trabalho. De todo modo nunca fui pura e de princípios. Então segue o baile.

Faixada da okupa Flor do Asfalto, autointitulada “espaço anarkista auto-gerido”, o local contava com uma biblioteca, oficina de serigrafia , um herbário, atelier, oficina de bicicletas, uma pequena agrofloresta com uma média de 70 espécies (algumas em extinção), cooperativa de alimentos, cozinha comunitária e mais.

M: Essa ideia e percepção da ruptura, que articula os coletivos, indivíduos e as iniciativas radicais – arriscaria dizer, de todas as filosofias políticas – acreditarem que romperam radicalmente com a hegemonia, porque agora entende outros processos e dá valor a outras coisas, acaba por negligenciar algumas pautas, reproduzir absurdos ou romantizar visões atribuindo todo problema a uma única origem e desta forma estabelece inimigos de forma estanque e totalitária, sem malemolência e sagacidade pra entender estratégias de sobrevivência e construção política como conjunturais e momentâneas. É possível dizer que, de certa forma, o ativismo mais radical da dissidência sexual por estarem no limbo do movimento negro, indígena, sem-terra e sem teto, da esquerda, do feminismo, do transfeminismo, da ecologia, dos direitos animais e até mesmo do próprio anarquismo – que hilariamente se diz tão abrangente anti-opressões – soube desenvolver um oportunismo estratégico e vital que se beneficiou tanto da implosão dos espaços que passou quanto de um medo/deslumbre dos autointitulados desconstruides que permitiu a conexão de uma rede de apoio mútuo a partir das próprias tretas?

MS: Minha experiência é do meio anarquista mas acredito que houve/há uma sabedoria bastante singular nos seguimentos gênero e sexo dissidentes radicais, advindos de nichos diversos de lutas, que permitiu não comprometer determinados esforços (existenciais, éticos, políticos, econômicos, coletivos e pessoais) e não condenar a luta à frustração, após a desilusão nos recentes processos de ruptura das articulações políticas da nossa geração (2005-2020).

E mais que isso, como vocês bem disseram, souberam fazer da crise nutrição para o próximo movimento, liberaram/atualizaram a potência retida em esqueminhas de poder e normatização, fomentaram denúncias e afrontas, e seguiram a vida criando conexões alternativas e até mesmo impensáveis. Creio que a partir dessas tretas, rupturas e seguimentos, fomos sendo mais cauteloses e assertives em nossas amizades, parcerias e empreendimentos, fortalecendo relações antigas (e novas) que testemunharam fracassos e passaram ao próximo momento juntas; desenvolvemos outras éticas e políticas com critérios (ainda) mais interseccionais, que necessariamente dão mais amplitude, sensibilidade, empatia e ginga.

Vale dizer que vejo esse elemento de pré disponibilidade em corpas sexo dissidentes radicais sim, e que (ainda assim) continuam sendo raras as pessoas que trazem essa disposição de identificar a merda, investir na destruição, fomentar alternativas e partir para outras; para além de ressentimentos e frustrações, aprendendo a organizar, conduzir e transformar o ódio, buscando o autocuidado dxs e entre xs nossxs. Mas independente de conseguir dar conta de tudo isso (que já é grandioso) sem se estripar, tem um (outro) elemento compartilhado entre nós que é importante ressaltar: nós (já) esperamos o pior desde o começo e isso nos obriga – enquanto experimentadores radicais de si, conscientes daquilo que representamos no mundo colonial – a criar estratégias resilientes (que possam minimamente prever possíveis conflitos e fazer saídas urgentes de modo a preservar a possibilidade de dar sequencia ao experimento em vida). Nós sempre suspeitamos. Sempre houve aquelas pessoas que estavam ali até o caroço, se envolvendo e construindo junto, somando fortemente à luta, mas sempre com um pé atrás, não comprando o pacote completo, chamando atenção para as violências – e atualizações sistêmicas das mesmas – que ocorriam nos guetos da resistência e que passavam “despercebidas”. Tem um contar com o fracasso aí. Não por que somos pessimistas (só por ser) mas por saber que não podemos depositar nossa autonomia em processos que estão comprometidos com valores coloniais, de tal modo, que quando se toca a parada ela surta e te agride. Talvez com isso tenhamos cultivado a qualidade de produzir fertilidade e possível em meio as crises de modo singular, e por essas e outras estamos tendo a felicidade de poder nos articular para projetos que se guiam muito mais pela qualidade de determinados encontros (que são poucos inclusive, mas que garantem a nutrição necessária para seguir com dignidade). Enfim, “sabemos” extrair o melhor dos processos críticos, temos uma base ancestral de desenvolver inteligências para (hoje) dar a “volta por cima” do colapso geral. Justamente por que antes de nós vieram outres que deixaram um legado de resiliência, em especial as travestis racializadas.

Anti-Projeto Anarco Fake: Mogli Saura (meio), Ruda Candaces (direita) e Gil Porto Pyrata (esquerda).

M: Você diz que agora assume aquilo que negou ao se produzir enquanto mercadoria, este é um debate muito tenso e longe do consenso, afinal circula sobre assimilação capitalista, apropriação cultural, prostituição e precarização do trabalho. A Jota Mombaça, antes de ser celebrity international falava em “agir como um câncer e pensar como um vírus” e nós agregamos o “lamber como felinos, comer como porcas e morder como cobras”, pra não falar do “a boca que xinga e a mesma que chupa”. Se por um lado é impossível fugir da mercantilização pois todos os corpos, inclusive os mais bem remunerados, assumem um lado objeto, por outro dá pra entender teu Anarco Fake como uma atualização do que vem se tornando assimilável, como se estivesse abrindo cada vez mais a ferida, porque lá dentro tem um monte de bactéria hedionda que faz festa nestas fissuras. Se o “Menage a Coiote” bombar, certamente a Fátima Bernardes vai te chamar pra um papo, eae? cogita mudar o cuzinho melado pelo coração ensaboado?

MS: Hahahaha! Essa é ótima! Nossa, é bem sobre isso. Eu formulo o como seguir viva(s) nos movendo entre matilhas enquanto atravessamos o deserto. Não sei se conseguimos fazer algo mais (combativo) num contexto (de trabalho) como esse além de praguejar o sistema enquanto nos “infiltramos” nesses meios. Esse papo todo de ocupar brechas e tentar mudar de dentro acho bastante furado também, as cartas tão dadas, as pessoas e instituições que colocam a grana não tão de bobeira, capitalismo não é brincadeira, assimilação não é farra, é trabalho pesado e envolve questões muito delicadas que custam caro “as nossxs”. Ser celebrity não é o que se imagina, essa galera (dita dissidente) que tá inserida nos mercados das artes não tem garantia de um futuro tranquilo nem tá (realmente) montada no cash como muites acham. A realidade não é o que se vê no instagram. Envolve muita negociação, abdicação e até mesmo mudança de paradigma.

A Michelle Mattiuzi fala sobre a treta toda que é ser artista preta e ter que lidar com as expectativas políticas que a corpa e a obra (que não desassocia da vida) “tem que” responder aos ativismos, como se houvesse uma obrigação e responsabilidade inerente ao fato de ocupar determinados espaços. Ou seja além de lidar com a merda toda do racismo e misoginia estrutural dentro das instituições tem os movimentos cobrando. Eu tenho achado isso tudo cada vez mais uó na real. Artistas de origem periférica, racializades e sexodissidentes não tem que dar satisfação aos movimentos por serem artistas, artistas-não-brancxs-e-cis pobres são trabalhadorxs que tentam levar uma vida menos precária e com mais possibilidades. Embora tenha gente que se passa no ridículo e perca totalmente a noção do contexto em que se inseriu, fazendo discursos de luta dentro e fora de suas obras e cagando nos close, se equivocando muito… não cabe a mim fazer o apontamento, quem sou eu na fila do pão, né? Como se diz, hoje pavão amanhã espanador. O tempo ah de situar cada qual na realidade. E além de tudo isso penso que conseguir sobreviver como artista (sendo dissidente) e conseguir abrir espaços para outras fudidas adentrarem esse campo (como fez a Pêdra Costa e a Michelle por exemplo) já é uma batalha digna de reconhecimento mínimo.

Enfim… Tento não focar tanto no que pode ser para o mundo e pensar mais no básico local. Para mim tem sido muito sobre dar seguimento ao processo de nutrição pessoal e comunitário. Penso que minha produção atual está em um momento de generosidade. Estou vindo de processos de fermentação e compostagem no qual derivou essa proposta, entre outras que estão por vir. O Anti-Projeto está vindo para abrir caminhos de possibilidade e abundância em meio a desgraceira. A doença já está dada, temos de focar na cura, na prevenção e evolução. As questões e afetos que trago em meu trabalho por si só darão o sentido de seu futuro. Não sei se se trata de pensar (agora) no que fazer caso bombar, em como me portar… Acredito que seja possível prosperar sem precisar operar na lógica comparativa e valorativa do mercado, da crítica, mas para isso tem de ter uma base muito convicta de como sobreviver ao que vem pela frente… Eu não me vejo inventado nada nem promovendo tendência (falsa modéstia).

Por outro lado minha experiência aponta a necessidade de produzir uma (outra) base material que dê conta de minhas estratégias de sobrevivência, e nesse sentido, sendo bem realista, creio que vai dar conta sim de minhas demandas já que me articulo a muito tempo pelas laterais da economia dita básica (e comum) e não planejo ser rica (e famosa) segundo os critérios do capitalismo. Na real eu já sou rica meu amor, tanto que to compartilhando com vocês meus tesouros. É sobre outras referências que construo meu movimento enquanto a profissional que nunca me esforcei para ser, e que agora estou criando com toda uma base dissidente de fim de mundo. E como diz a Bruna Kury o mercado terá de nos engolir. E eu boto fé que (para além de entender) tem nicho de mercado pra tudo que é coisa nesse mundo, ainda mais agora que ele tá nas últimas, meu som vai navegar sem dúvida, rs. Uma outra treta que vejo é a de se distanciar das bases que você evoca e protagonizar e representar determinadas coisas em função das demandas dos setores de assimilação. Isso acontece e quando vemos estamos distantes do nosso terreiro, rodeades de gente que nos chupa agora mas a qualquer momento pode nos dar as costas em situações comprometedoras. Mas é isso estamos descobrindo né, cada qual no seu momento com suas prioridades. Só espero que a coisa do bando se efetue de fato e que as celebritys me chamem pra fazer coisas bafo. De todo modo prometo não virar uma otária como certas figurinhas que (aparentemente) “ficam ricas” e não olham mais na cara das fudida kkkkkkk. Se não puder gastar onda não é minha reforma (já que falar em revolução é artigo de luxo no capital cognitivo do meio das artes). Quero fazer um duo com a Linn da Quebrada cantando coração ensaboado um dia no programa da Fátima Bernardes. #ficaadica

MAKE ME CAM: te COVID a gozar

Como parte das programações para dar uma alivada na quartentena a produtora de pornô desviante Ediy, que realiza produções para reinventar imaginários sexuais, rumo outra lógica de criação e consumo de putaria e o Coletivo Revolta, organizador da Mostra Revolta, que teve como finalidade estimular sexualmente o fazer artístico, se uniram pra umidecer o isolamento numa programação bem exxxcitante de combate as normatividades cishetero.

As LIVES podem ser acessadas nos instagrans @ediyp_rnx e @coletivorevolta, as PERFOS pelo cam4/ciclomakemecam e o VÍDEO estará disponível em ediyporn.com/diversos

MAKE ME CAM te COVID a gozar é um ciclo de ações entre as plataformas do CAM4, do Instagram e da Ediy Porn.

Durante uma semana, performances ao vivo, debates e um vídeo buscarão criar enunciados sobre o contexto do isolamento social, associando a pandemia do Corona Vírus com discussões urgentes sobre a produção da pornografia e do desejo. O ciclo é uma proposição dos coletivos Ediy Porn, Revolta e uma série de colaboradores e acontece do dia 09 ao 15 de maio.

Juntes, queremos pensar o lugar da câmera nas elaborações artísticas e mesmo em nossas vidas cotidianas hoje. Abrimos questionamentos sobre fisicalidade versus fiscalização de corpas, saúde mental de profissionais do sexo, (r)existência do trabalho sexual e o modo como a noção de transmissão perpassa tudo isso. Assim, refletimos sobre o lugar das dissidências sexuais no contexto da pandemia, tensionando o sentido de coletividade e interrogando a divisão entre público e privado que permeia o universo pornográfico e suas formas de consumo.

PROGRAMAÇÃO

09.05 – 19h
LIVE

Trajetos Pós-Pornôs Sudakas: auto-reflexões de uma década por
@bixaria__ e @taisloba

10.05 – 21h
PERFO
Virulenta
@bixaputa_

11.05 – 16h
PERFO

Porra Lésbica
@mariemonterr

12.05 – 19h
LIVE

Sexualidade, maternidade e gestação
@sue.nhamandu e @marcelle.louzada

13.05 – 19h
LIVE

Trabalho sexual e quarentena: cam e outras estratégias por
@patricinhamentiroza e @babi.felice

14.05 – 18h
VÍDEO e CONVERSA COM REALIZADORES

Contact
@deedz_zi e @meatball_dom mediada por @glhrmtxr

15.05 – 22h
PERFO

PORNOSHOW @zuzu.hyperlink@ren_ata.me@kalidyakini@wand_albuquerque@profania_ e @bixaputa_

Convocatória de Trabalhos 2020 Monstruosas

Esta aberta a Convocatória de Trabalhos 2020 da Monstruosas, com objetivo de reunir material para propagação político-cultural sexodissidente e dar continuidade a uma agitação combativa que estimule o uso da criatividade e da estética enquanto dispositivo de insurgência contra a normalidade cisheterossexista e sua economia de controle e reprodução de corpos cisgêneros e heterossexuais, enquanto maquinaria genocída da supremacia branca.

Entendendo a revolta como uma prática divertida e excitante e o colapso como uma profecia necessária, esta chamada pretende mapear e inspirar produções da população sexodissidente em perspectiva antihegemônica, sob o ponto de vista que o CIStema é uma tecnologia civilizatória e racista que assegura uma norma de corporalidade e de comportamento necessária a dominação antropocêntrica, assim como a heterossexualidade enquanto regime político, que se fundamenta na família nuclear eurocentrada e estrutura cidades que desencadeiam a superpopulação do planeta, sob uma base de exploração racista. Desta forma ao pensarmos a partir do mote da dissidência sexual, entendemos a pertinência desta categoria como um marco disruptivo civilizatório, presumindo raça, classe, etnia e espécie como condições que desautorizam alguns corpos serem considerados sob a mesma lógica de respeito e importância de um corpo que o racionalismo moderno chamou de humano: aquele branco, heterossexual, cisgênero, civilizado, saudável e fértil.

Numa época de avanço do fascismo, reação cristã, sofisticação dos mecanismos de opressão e reelaboração das estratégias de assimilação, precisamos estar cada vez mais conectadas em rede e desenvolver narrativas combativas e dissidentes que garantam a imaginação e materialização de outros mundos possíveis. Nesta convocatória estimulamos ainda o resgate das concepções e entendimentos de cosmovisões ameríndias e africanas sobre sexualidade e gênero como também incentivamos a localização política e o desmonte colonial das reflexões contemporâneas brancas e eurocentradas a cerca deste tema, que se beneficiam do extermínio etnocída que a colonização, através da religião e da ciência, promoveu contra a pluralidade de arranjos das relações sexuais, de parentesco e gênero, acumulando status, alienando através de uma ruptura fictícia, agregando poder político e repercutindo seus postulados a partir de uma lógica etnocêntrica.

Desta forma convocamos urubruxes, boycetas, bizarres, pombas giras, monstres, positives, pirates, loucas, cyborgues, monstravas, piranhas, cachorres, putes, vacas, sapas, viadas, porcas, morcegos, ratos, aliens e demais não humanes e desumanizades a compartilharem seus trabalhos com esta plataforma, afim de colaborar na construção de uma memória sexodissidente ofensiva e contaminar corpos com a insubordinação e provocação aos sistemas hierárquicos, binários, racistas e especistas de dominação.

O material deve ser enviado até as 18h do dia 16/04/2020 para monstruosas@riseup.net, podendo ser em vídeo, texto, ilustração e fotografia. Os trabalhos selecionados podem virar zines, livros, adesivos, posters, patchs, lambes, camisetas e dvds, que circularão nas bancas da Distro Dysca, – iniciativa que distribui toda a produção da Monstruosas – bem como podem ser exibidos e expostos nos eventos organizados pela Monstruosas, além de indicados e distribuídos para mostras e festivais que a Monstruosas atua como curadora e apoiadora no Brasil e na América Latina. A Monstruosas se compromete com o envio de um kit com dvds, camisetas, zines, adesivo e pachs que contém nosso acervo e as demais obras escolhidas, a ideia é que as colaboradoras se conectem e absorvam o conteúdo propagado, atuem como contaminadoras reproduzindo e distribuindo este material com amigues, além de incentivar a exposição destes materiais pra venda, como forma de obter renda utilizando o trabalho ambulante e autônomo como estratégia de autodefesa para nossa população.

PÓSPORNÔPYRATA – Intersecções entre póspornografia, arte contemporânea e decolonialidade em Fortaleza – CE

Dos dias 22 a 26 de outubro a Monstruosas, em conjunto com a Coletiva Vômito, Distro Dysca, Aline Furtado e Kuceta Plataforma aportam na “terra da luz” a convite de Rao Ni, Bruna Kury e Gil Porto Pyrata, para contaminar corpos com o vírus da insubordinação ao cistema e elaborar criações perigosas e de ataque contra o império heterossexista, em perspectiva antiracista, antiespecista anticolonial e anticivilizatória.

A resisdência PÓSPORNÔPYRATA será realizada no Carnaúba Cultural, Rua Instituto do Ceará, 164, no Benfica, com abertura e encerramento de acesso gratuito, além de dois dias de imersão para vivência e construção coletiva exclusivas para as pessoas inscritas. O projeto contará com exibição de vídeos póspornôs sudakas, estações de experimetação póspornô sensoriais, debate e ação direta pornoterrorista, além da mostra dos trabalhos realizados e uma excitante feira autônoma que marcará a conclusão dos trabalhos.

Os dias 23 e 24 são exclusivos para as 10 pessoas selecionadas através das inscrições realizadas pelo preenchimento do fomulário. As pessoas participantes da residência poderão contar com uma ajuda de custo individual de 50R$.

PÓSPORNÔPYRATA – Interseccções entre póspornografia, arte contemporânea e decolonialidade

Nos arreganhamos a pensar sobre raça e sexo-gênero-dissidência, interseccionando as opressões e privilégios, pensando nesses marcadores sociais que hierarquizam as relações. Como isso reverbera na construção da arte contemporânea?

A proposta é ascender as corpas e sexualidades transviadas e degeneradas em potência do fazer criativo enquanto máquina insurgente, conectadas por uma rede de cuidado, afetiva e de modificação. A residência propõe o estímulo ao erro, já que o bug do sistema somos nós. Processos de localização da opressão à táticas de guerrilha póspornô e possibilidades de rupturas ao cistema heteromachobranco.

A residência pretende conectar artistas que trabalham com póspornô e decolonização e/ou tem ações e vivência de combate e questionamento à hegemonia racista e cis hetero patriarcal. Pq a arte legitimada é a do homem hétero cis branco?

A hierarquia e a linearidade da arte como senhor deus colonizador. Como produções dissidentes articulam fora do grande circuito elitista das artes?

Propomos pensar produções póspornô sudakas para questionar a colonização dos corpos. Quais os tensionamentos sobre a presença destas reflexões no campo artístico? É possível dilatar a fronteira elitista e clubista da arte para que a propagação de nossas narrativas se transforme numa estratégia de sobrevivência no cisheterocapitalismo?

### o pornoterrorismo pode ser um marco implosivo da linearidade que dominou a arte contemporânea? ###

Curador da Residência Rao Ni nasceu em Fortaleza/CE, é transvyade não binário e do corre autônomo. Pesquisa a produção de imagens não normativas que abordam gênero, corporalidades dissidentes e transmasculinidades marikas. Trabalha com fotografia, montagem de vídeo e xilogravura. Atualmente estuda iluminação cênica na SP Escola de Teatro.
Curador da residência Gil Porto Pyrata reside atualmente em São Paulo, é pessoa trans não binária, artista de rua, arte educador, palhaço freak, anarcatransfeminista e terrorperformer, pesquisa pospornografias e masculinidades combativas ao heterocispatriarcado, com uso de linguagens experimentais que circulam entre circo/dança/sonoridades/perfomance/textualidades.
Curadora da Residência Bruna Kury é brasileira, anarcatransfeminista, performer, artista visual e sonora. Atualmente reside em São Paulo e desenvolve trabalhos em diversos contextos, seja no mercado institucional da arte ou em produções de borda. Focada em criações atravessadas por questões de gênero, classe e raça (contra o cis-tema patriarcal heteronormativo compulsório vigente e a opressões estruturais-GUERRA de classes). Já performou com a Coletiva Vômito, Coletivo Coiote, La Plataformance, MEXA e Coletivo T. Atualmente investiga sonoridades no pósporno e a criação de objetuais que são ramificações do trabalho com performance.

PROGRAMAÇÃO

PRIMEIRO DIA – TER 22/10 – 19h
Carnaúba Cultural
Aberto ao público
Exibição de vídeos póspornô sudakas & Roda de abertura.

SEGUNDO DIA – QUA 23/10 – 17H
Carnaúba Cultural
Exclusivo para as inscritas
Estações de experimentação póspornô sensoriais

estação1: Faça você mesme.

estação2 : VÔMITO. vomitamos a velha máxima desnecessária dos concretistas, modernistas, tropicalistas, queers modinha. Oiticica is dead! Vomitamos a nós mesmas para nos reinventar, para não sucumbirmos caladas, para perturbar a norma e implantar desconforto aos que nos subjulgam, vomitamos nossa própria carne, nossa radioatividade, nossos vírus para que todxs se infeccionem, purpurina de nossos ossos.

“A antropoemia – o vômito – interrompe a digestão e a evacuação: reverte a dialética ao não permitir que se faça a síntese. Impedido de virar bosta, todo vômito se faz comestível: na contramão da síntese, vomitar é a possibilidade de comer novamente, e outra vez mais. “Contínua transformação do tabu em totem”.

Todo vômito “já éramos” alimento. É ao mesmo tempo alimento e dejeto, inclusão e exclusão. Ambivalência. O vômito é o pulsante processo dialético e histórico, instável e informe. Força que não estabiliza.”

(ref. a oficina de vômito da coletiva vômito, estação que muta criada por Bruna Kury. no encontro aparece como instalacão.)

estação3 : PÓSPORNO SONORO. “As corpas são únicas, podemos expandir nossos sentidos. Nenhuma medicina branca nem igreja, nem família baseada na cisnorma poderá nos castrar ou nos trancafiar em outres ou em nós mesmes. Faremos de nossas corpas festa, de nossos orifícios transmissores de música de nós mesmes, tentáculos e fios.”
Tecnologias do corpo, suor, pele, próteses, hibridismo, organismo.

TERCEIRO DIA – QUI 24/10 17H
Carnaúba Cultural
Exclusivo para as inscritas
Debates Antihumanistas: Construções coletivas de performances pospornô

com Monstruosas e Distro Dysca – focades nos tesões apocalípticos que se fortalecem desprezando a falocracia da masculinidade tóxica e civilizada. Gozar em cima das ruínas da heterossexualidade e da família nuclear androcentrada é um ato que transforma os esforços para demolição do heterocapitalismo em um orgasmo lascivo, sendo as vivências e as práticas dissidentes, um vírus que se propaga contaminando os corpos com a descolonização dos desejos e afetos. Os prazeres e a forma como se alcança-os também são políticos e fazem parte de uma subversão estrutural acerca do controle biopolítico dos corpos.

“Salimos a la calle, monstruas, mutantes, queers, sudakas, migrantes, disidentes, lxs que despiertan y quieren despertar a otrxs. Derrumbando los muros que impone el (des)conocimiento, follamos de vuelta los vangloriados culos próceres del fascismo, héroes del colonialismo. Les follamos y en el lugar de los hechos eyaculamos los cuerpos de piedra con verdadera historia.”
Ref: fuckthefascism.blogspot.com



QUARTO DIA – 26/10 17h
Carnaúba Cultural
Aberto ao Público
MOnSTRA COLETIVA dos trabalhos com integrantes da residência e artistas convidades.

Feira de obras e materiais contrainformativos com Monstruosas, Distro Dysca, PósPornôPirata, AnarkoBafo, Kuceta Plataforma

Convenção das Themonias, uma convocação sexodissidente para um motim de corpos bizarros na Amazônia


No dia 7 de setembro acontece no Boteco Socialista em Belém do Pará a 1ª CONVENÇÃO DAS THEMONIAS. Chamado pelas themonias amazônicas, o encontro pretende ser um intercambio e um momento de discussão na tentativa de organizar ideias e neuras que fortaleça corpos themonizados da Amazônia, em diálogo com a floresta e a cidade.

Com trabalhos e performances em constante mutação, assim como a floresta, e com a presença das icônicas Sarita di Xzuis e Uýra Sodoma, as themonias de Belém veem no encontro uma possibilidade de criar uma rede colaborativa entre as themonias da Amazônia que aproxime e fortaleça os afetos, suas batalhas diárias e transtorne a realidade, uma vez que “se nossa existência é uma ameaça, nossas ações passarão a ser um atentado!”

Uýra Sodoma themonia amazônica que usa a floresta como inspiração criativa sempre é recebida com reações de encanto ou de medo

Sarita di Xzuis, tem como missão ressignificar o lixo e o conceito de montaria por meio dos seus looks

 

CONVOCATÓRIA PARA A Iª CONVENÇÃO DAS THEMONIAS

É com muita encaralhação que convocamos todxs xs Themonias, monxtras, estranhxs, pessoas precárias, que não cabem na caixa e subvertem a ordem na luta diária pela reexistência, para um encontro, uma convenção para discutirmos as nossas demandas como grupo socialmente marginalizado, sendo vistas enquanto ameaça pelo CIStema heterocapitalista, percebendo a heterossexualidade enquanto norma que nos impõe crenças, moralidades e comportamentos na tentativa de nos dominar e por isso nos assassinam, themonizam nossos corpos, nossa ancestralidade e o direito de existir.

Acreditamos que nossas neuras vem se expressando em nossos corpos seja de forma artística como drag ou socialmente enquanto travestis, pessoas trans, não binárias, sapatonas, beshas, periféricas e pessoas precárias, nossas diferentes performances e identidades criadas são vistas como ameaça à moral social e por isso somos themonizadas. Cada encontro, festa ou ocupação dos diferentes espaços onde coexistimos também gera uma reação, seja na floresta urbanizadas em que vivemos ou na Amazônia profunda, um dialogo da nossa diversidade subjetiva enquanto grupo que afeta e é afetado pelos diferentes contextos que ocupamos.

Movimentos sociais mobilizam apoio para comparecer na audiência do caso Luana Barbosa em Ribeirão Preto

Você sabe quem foi Luana Barbosa?

Luana Barbosa dos Reis morreu após abordagem da PM em Ribeirão Preto (Foto: Reprodução/EPTV)

Luana era uma mulher negra, lésbica, mãe e periférica, que foi assassinada pela mão da PMSP em Ribeirão Preto, em Abril de 2016.

Luana levava seu filho de 14 anos, a um curso de informática e foi espancada por se negar a ser revistada por policiais homens. Segundo familiares, Luana teria pedido que a revista fosse realizada por policiais mulheres, mas a solicitação não foi atendida, e ao pontuar que não queria que o procedimento fosse feito por agentes homens ela foi brutalmente agredida por cerca de 6 policiais. Em decorrência do espancamento a vítima teve isquemia cerebral causada por traumatismo crânio-encefálico, conforme apontado no laudo do Instituto Médico Legal (IML), vindo a óbito 5 dias depois da violência policial, aos 34 anos.

O juiz José Roberto Bernardi Liberal, responsável pelo caso, em mais uma ação de lesbofobia e racismo institucional alega falta de provas, invalidando o laudo médico para provar a violência policial, desta forma a justiça negou o pedido de prisão preventiva dos acusados.

Dia 18/07/2018 às 13h terá uma Audiência de Instrução e Julgamento, no Foro de Ribeirão Preto, onde familiares de Luana foram intimados a prestar depoimentos como testemunhas de acusação na frente dos policiais acusados.

Diante dessa série de violências que Luana Barbosa, assim como sua família vivenciaram nesses últimos anos, a ABGLT – Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Travestis e Intersexos denuncia através de uma Nota de Repúdio mais uma impunidade da justiça brasileira. A associação questiona publicamente o método que materializa mais uma violência e exige que se pense uma outra forma de compartilhar e coletar informações das também vitimas da situação para que elas sejam acolhidas diante de tamanha impunidade.

Desta maneira movimentos sociais, coletividades e agrupamentos LGBTS, sexodissidentes, negros e feministas estão sendo convocados para fazerem pressão nesse cenário de julgamento e apoiar a família que foi violada pela intervenção brutal da policia. Precisamos exercer solidariedade e a convocatória se dá na tentativa de garantir o acolhimento para mais uma família negra que sofre com o genocídio devido a violência policial.

O Coletivo Adelinas, o MAE- Movimento Autônomo pela Educacao, as Mães em Luto da Zona Leste, Mulheres Militantes Autônomas e a Coletiva Luana Barbosa estão fazendo uma vakinha online para custear transporte até Ribeirão Preto com objetivo de comparecer no dia da audiência, a campanha encerra dia 15 de julho: https://www.vakinha.com.br/vaquinha/nenhuma-luana-a-menos

A ONU Mulheres e o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos (ACNUDH) divulgaram nota em que pedem “investigação imparcial” sobre o caso, afirmando que a morte da jovem “é um caso emblemático da prevalência e gravidade da violência racista, de gênero e lesbofóbica no Brasil. Segundo a Relatora Especial sobre questões de minorias da ONU, o número de afrodescendentes mortos em ações policiais é três vezes maior do que o registrado entre a população branca no estado de São Paulo.”

Vidas LGBT’s importam, Vidas negras importam, parem de nos matar!

http://s2.glbimg.com/WCWDQAB4LHq2gSOijOYOqQ4rt1U=/620x465/s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2016/04/15/familia_luana_novo.jpg

LIBERTA ELAS: Afeto, feminismo e antiracismo para mulheres em situação de cárcere em Pernambuco

O projeto Liberta Elas se volta para as mulheres em situação de cárcere em Pernambuco.

Com uma visão crítica à seletividade (de raça, sexualidade e classe) do sistema penitenciário brasileiro, a proposta é estabelecer contatos de afeto com estas mulheres, afirmando a importância da sociedade se voltar para elas, observando onde estão, em quais circunstâncias e por quais motivos. A invisibilidade na qual são colocadas as pessoas em situação de cárcere só colabora com a perda de seus direitos. O projeto Liberta Elas luta pelos direitos das mulheres e por justiça social.

O crime quando cometido por uma mulher é entendido não só como um ato de transgressão às normas, mas, e principalmente, como uma “rebeldia” feminina que abandona seu lugar de “honra” na sociedade.


A mulher transgressora não é considerada digna de respeito e atenção.

Um retrato disso são os dias de visitas na Colônia Penal Feminina Bom Pastor. Dias marcados por ausências e solidão.

O Liberta Elas acredita na potência política do afeto e nossa proposta é construir momentos de acolhimento para as mulheres que estão lá dentro. Um acolhimento que possa também ser material, já que existem necessidades básicas por parte das mulheres em situação de cárcere.

Nesse primeiro momento, o Liberta Elas está construindo um diálogo com a Colônia Penal Feminina Bom Pastor. Os contatos entre o projeto e estas mulheres serão estabelecidos através de atividades coletivas como a oficina de Estética da Afetividade, realizada por Isabel Freitas.

Sua proposta pedagógica possibilitará às mulheres em situação de cárcere a reconstrução da sua própria história, resgatando/fortalecendo sua autoestima pessoal, familiar e social com base na estética do oprimido. Esta tem como fundamento a certeza de que somos todos melhores do que pensamos ser, capazes de fazer mais do que realizamos: todo ser humano é expansivo.

Também serão viabilizadas entre os dias 11 e 15 junho pelas outras integrantes do projeto, mais atividades como: oficinas de respiração, produção de zine, biodança, sobre a escuta de si; roda de diálogo sobre maternidade e famílias, e sessão de cinema.

Ainda existe uma campanha pernamente de arrecadação que busca montar kits individuais que levam em consideração as especificidades das mulheres no Bom Pastor (mães, idosas, gestantes e bebês).

Kit Mulheres: absorventes, perfumes, sabonetes, xampu, creme condicionador, hidratante, pasta e escova de dentes, batons, maquiagens e roupas;

Kit Bebê: sabonete para bebês, colônia para bebês, lenços umedecidos e fraldas G ou GG.

Os kits prontos serão arrecadados na Rua Nunes Machado, nº 97, Boa Vista, próximo a Igreja da Soledade e da Universidade Católica de Pernambuco. Para as pessoas que não puderem montar um kit mas quiserem colaborar, também serão aceitas doações a partir de R$ 5,00, através das contas (os comprovantes deverão ser enviados para o e-mail: libertaelas@gmail.com com o assunto “doação campanha bom pastor”. Vale ressaltar que todo o dinheiro arreacado será utilizado para a compra dos kits.

CAIXA ECONÔMICA:
AGÊNCIA : 0559
OP: 001
CONTA: 00030643-4
Elivânia Santos da Rocha

BANCO DO BRASIL
AGÊNCIA: 1833-3
CONTA: 32.171-0
Juliana Trevas