69Anticolonial: um troca x troca entre EdiyPorn e Monstruosas

Falar sobre pornografia é um tabu dos bons, a crítica a ela une cristãos e feministas, conservadores e progressistas, fascistas e anarquistas. A moral e o pudor cristão que marginaliza e condena a auto experimentação sexual e a exibição pública da sexualidade se infiltra como valor de pureza, indicador de caráter e termômetro político nos mais distintos setores da sociedade, implicando no ambiente confortável e punitivo para que o pornô seja uma ferramenta pedagógica e difusora de uma sexualidade abusiva e excludente, controlada por homens brancos cis heterossexuais, além de servir para atualizar os estereótipos de gênero reforçando o cistema enquanto tecnologia da supremacia branca, a heterossexualidade enquanto regime político e normatize as práticas sexuais.

Entender que o pornô não tem uma essência violênta, mas é uma ferramenta operada a serviço de uma hegemonia sexista, foi o estalo para um movimento que pretende registrar práticas sexuais contrárias à norma cishetero e sugerir que corpos não hegemônicos, abjetos e com diversidade funcional também possam experimentar e criar suas sexualidades, protagonizando seus registros sem ser fetiche ou categoria. Desta forma o póspornô, pornô dissidente, pornô desviante, autopornografia, entre outras formas questionadoras do pornô hegemônico, emerge como uma ação política que atua na construção de outras possibilidades hoje.

Com objetivo de compartilhar e difundir um pouco mais esta tática a Monstruosas realizou uma entrevista com a EdiyPorn, a primeira produtora de pornô desviante e dissidente do Bra$il. Lançada publicamente em abril de 2020, a EdiyPorn nasce com a proposta de hackeamento de imaginário dentro do mercado pornográfico e tem como premissa produzir com tesão, sem separar os vídeos por categorias objetificadoras, uma vez que não se importa só com a imagem, mas sim, prioriza a confiança e o consentimento sobre todo o processo de produção. A produtora conta com a dupla protagonista do Golden Shower no Blocu, durante o carnaval de São Paulo em 2019, a performance repercutiu mundialmente devido ao interesse do atual Presidente do Brasil pela prática realizada pelas performers, transformando-a em assunto de Estado e se firmasse como um importante ataque na moral conservadora nos últimos tempos assim como as performances do Coletivo Coiote e das intervenções das Putinhas Aborteiras.

A entrevista seguiu um esquema de putaria horizontal onde a EdiyPorn também entrevistou Timboiá Igbalé, uma das colaboradoras da Monstruosas materializando o 69 Anticolonial, um troca x troca entre EdiyPorn e Monstruosas, a entrevista da nossa absurda monstrinha você pode conferir aqui.

Monstruosas: A Ediy se pretende uma produtora de pornô desviante, com base numa crítica sobre a representação hegemônica da sexualidade que acaba por normatizar desejos. Na prática, de que forma se faz isso? E porque é tão importante ressignificar o pornô?

EdiyPorn: O que queremos como produtora é mexer na lógica de produção e consumo de pornografia. O pornô mainstream tem um modo de trabalho bastante similar ao audiovisual que lida com uma equipe muito setorizada, roteiros, hierarquias de set e de produção, onde o objetivo principal é ter um vídeo como o planejado e que ele seja rentável economicamente. Então, quando falamos sobre pornô desviante é sobre mudar essa estrutura de trabalho. O objetivo principal de um set nosso é que as pessoas que estejam performando desfrutem do encontro de corpos e das práticas feitas, que tenham tesão e gozem. Para isso entendemos que toda a equipe tem que estar confortável e atenta aos performers para que estes possam estar a vontade e as câmeras interessadas na ação, nas pessoas, em como isso está sendo impresso na imagem. E a gente vem percebendo sobre a importância da pessoa que edita o vídeo ter esse olhar também, esse tesão pela imagem retratada na cena para poder trabalhar a edição de forma que seja guiada pelo tesão que rolou entre performers e que conduza o espectador ao prazer. Acreditamos que ressignificar o pornô é mexer nele desde a estrutura e pelo afeto. Há um tempo a gente vem constituindo redes e comunidades. Relações que criam possibilidades surgirem frente ao aplastamento normalizador de subjetividades. E também tem a ver com isso a ressignificação do pornô: com quem estamos produzindo? Para quem? O pornô é um veículo para alargar percepções de sexualidade e é importante ressignificar essa linguagem porque ela desempenha uma força estruturante das formas como nos relacionamos. Como aprendemos a nos relacionar pelas lógicas coloniais, reconhecemos a urgência de mexer com o que sentimos como sexual, o que entendemos como prazer, como desejo, desejante ou desejável para que a gente possa trepar com um gozo livre no mundo que estamos preparando em resposta à esse que cai.

M: No site da produtora tem uma sessão chamada “Goze Junte”, vocês dizem que a putaria é feita por todes. É um claro chamado pra se juntar a um bonde gozante através da prática masturbatória, onde, de certa forma, provoca as pessoas a gravarem vídeos se masturbando e compartilharem. Qual a importância do autoregistro e da auto-exposição na construção de uma sexualidade desviante?

E: É o rolê da construção das próprias narrativas, né? O autoregistro é meio que uma masturbação cyber: você se sente e também se vê de fora, fica gravado, é ser voyeur e exibicionista se vc se assiste, ou exibicionista manda pra outres, ou vc pode entrar nessa uma orgia cyber se vc manda pra gente da EDIYPORN subir no “Goze Junte” rs. E tem também uma parada da masturbação que a gente gosta muito que é a exploração do autoprazer como um caminho que nos damos para se descobrir, um processo de autoexploração, autoconhecimento e cuidado. Dar tesão pra si. Aí pensamos: e se compartilhamos esse autoprazer com outras pessoas? É intercambiar referências, é entrar e ver as diferentes formas, lugares e objetos que outres usam nesse momento consigo.

Então vem a potência da auto-exposição reafirmar as redes: nenhum corpo se constitui sozinho. Pensamos que essa aba do site é pra ser um ponto de encontro que cria um banco de referências de corpas e tesões. Nós, corpas bixas, travestisgêneres, sapatonas, gordes, pretes, nbs e tantas outras temos poucas referências dos nossos corpos sendo bem retratados e tendo prazer no pornô, sempre fomos rechaçades ou fetichizades, então a auto-exposição é poder ter autonomia sobre como vamos retratar nosso corpo, prazer e desejo e de como podemos nos fazer desejáveis.

“Nossos olhos estão viciados a se atraírem pela estética hegemônica: corpos esculpidos em academia, proteína e silicone, bucetas sempre dispostas, cus que são feitos para os paus, paus gigantes que fizeram a gente associar a dor de uma penetração à prazer, locações descuidadas, diálogos superficiais, tesão atuado… essa lista é pencas extensa. Precisamos de um detox!”

Contato é um poema audiovisual sobre isolamento, intimidade, natureza e memória corporal durante a pandemia do covid-19. Ficou disponível no site da produtora durante alguns dias do Ciclo Make Me Cam. Hoje no site, você pode conferir alguns frames e o texto que faz parte do projeto.

M: A categoria “amador” na pornografia digital é a mais acessada, contudo apesar de ser mais flexível quanto aos padrões corporais e etários, se percebe cada vez mais estas produções se aproximando dos estereótipos hegemônicos quanto ao corpo e ao comportamento, nos fazendo refletir sobre o tamanho da influência da pornografia convencional na educação sexual e até mesmo na própria concepção de sexualidade. Vocês refletem sobre esta função pedagógica do pornô? como pretendem expandir isso para além de um negócio entre amigues?

E: A pornografia amadora é muito acessada e tem uma oferta enorme de corpos. Mas quais desses pornôs tem sido mais fomentado? Quem tem ganhado mais biscoito? Porque mesmo quando a gente não paga por putaria na internet, cada view, like ou seguidor também é um capital e a moeda é a atenção e o tempo de usuários dedicado àquele conteúdo. O que consumimos de material pornográfico vai construindo nossa subjetividade e alimentando nosso imaginário sexual.

Pelo que temos visto e pesquisado, a pornografia amadora que mais vende é aquela que mistura corpos do pornô mainstream, práticas genitais e selfies de instagram numa estética de tumblr. É uma receita de mercado que se aproveita do vício imagético construído pelo pornô tradicional. Nossos olhos estão viciados a se atraírem pela estética hegemônica: corpos esculpidos em academia; proteína e silicone; bucetas sempre dispostas; cus que são feitos para os paus; paus gigantes que fizeram a gente associar a dor de uma penetração à prazer; locações descuidadas; diálogos superficiais; tesão atuado… essa lista é pencas extensa. Precisamos de um detox! Temos cada vez mais pessoas sudakas e dissidentes produzindo conteúdo tesudo, seguro e de qualidade. Cada vez mais pessoas negras, boycetas, lésbicas, gordes e travestis produzindo pornô e alimentando suas páginas em onlyfans ou justforfans – plataformas de venda de conteúdo amador.

Mas ainda essas produções seguem fragmentadas, você tem que dar uma boa garimpada na internet pra achar. Mas é isso, estamos num momento de mudança de paradigmas socioculturais, em que movimentos culturais e sociais estão gritando mais alto e com sede de reparação. Já nos demos conta da merda que a hegemonia branca heterociscentrada e magrocrata cagou com nossas subjetividades. Entendemos que a educação sexual que tivemos pelo pornô mainstream nos violentou. Nossa sociedade aprendeu a foder mal e se satisfazer com pouco. Nos ensinam a foder na receita binária de ativo – passiva, dominador – submissa, masculino falo, feminino buraco, numa foda que tem roteiro de 3 tempos: preliminar – penetração – orgasmo (mas o orgasmomasculino e peniano vale mais). Então estamos querendo nos deseducar e desaprender para poder viver nossas sexualidades sem toxinas normalizantes e, a partir dessa vivência, produzir um pornô que desvia dessas normas, alimentando uma subjetividade sexual sem receita e sem fronteira. E esse movimento ganha muita potência no momento que alcança mais pessoas, no momento que sai da nossa bolha de amigues. Isso é sobre aumentar a rede e o público, desde que começamos a pensar e construir a EDIYPORN no começo de 2019, a gente vem se abrindo e conhecendo muitas pessoas que também estão pensando, repensando e vivendo a sexualidade de maneira interessada na mudança das narrativas pornograficas tradicionais. Estávamos a todo o vapor, com planos de gravações e encontros e rolou pandemia e quarentena. Sem poder gravar novas cenas decidimos expandir ainda mais a essa rede e buscamos pessoas que estão produzindo pornografia independente e massa para somar com conteúdo para o site. Nós estamos comprando material dessas pessoas, mas não temos muito acué pra oferecer, então, acaba que quem chega junto é porque bota fé no projeto, é por acreditar que podemos criar essa outra forma de fazer e consumir pornografia. Temos trocado ideia com uma galera muito boca e isso tem nos levado além das fronteiras físicas de São Paulo e também estamos em diálogo com produtoras que trabalham com mainstream, mas que acreditam num outro pornô. Nosso desejo é de expansão: entrar no mercado e poder ter circulação de acué pra fomentar dignamente quem está no pornô desviante.

“O bloqueio das sexualidades desviantes é parte do higienismo social que faz a manutenção do racismo e das fobias estruturais. É o mesmo higienismo que fazos planos urbanísticos marginalizarem vidas não abastadas, em crescente expansão pela especulação imobiliária, que é responsável por tomadas de terras indígenas, chacinas em periferias e suicídios de pessoas sexo-gênero dissidentes.”

M: Um outro aspecto interessante é o PORNOSHOW, onde realizam ações performáticas que também trazem processos de investigação e pesquisa artística, aliás o pornô e arte sempre estiveram intimamente ligados, talvez por ambos se conectarem através dos estímulos sensoriais e subjetivos. Pra vocês, quando o pornô se distancia da arte e quando a arte nega o pornô enquanto tecnologia provocadora e produtora de desejos e de realidades?

E: O pornô começou com a arte. Preciado escreve q a noção de ‘pornografia’ surge entre os séculos XVIII e XIX e se referia a pinturas tidas como “obcenas”. Então, num sentido subjetivo realmente estão intimamente ligados e ambos são fundamentais para a construção do nosso imaginário. Mas talvez haja um distanciamento entre eles que por um lado é mercadológico: qual é o produto e onde será vendido ou exposto, e por outro uma questão de proposta: desfrutar? refletir? entreter? criticar? o que queremos com esse material? Vemos os PORNOSHOWs como ações disruptivas desses supostos distanciamentos. São performances que rompem com o lugar onde nossa sociedade coloca o sexo: a esfera íntima retraída pro privado, velado, obsceno. Então, causa uma reflexão acerca de certas práticas sexuais e de certas corporalidades ao mesmo tempo que produz imagens de prazer e desfrute. A pornografia reafirma o colonialismo quando enaltece os corpos brancos, cis, magros e héteros realizando práticas binárias e genitais. E a arte reafirma a lógica colonialista meritocrática baseada em interpretações, signos e significados, se esquivando de ações explícitas, e as negando enquanto tecnologia produtora de subjetividade por serem “vulgares”. Nossa sociedade ainda vê a sexualidade como algo estanque, que vem junto com o nascimento e “é assim”. Quantas vezes já não escutamos frases racistas, misóginas ou fóbicas sendo amparadas pelo intocável e inexplicável desejo sexual, o clássico: “eu super respeito, mas não gosto de trepar com x tipo de corpo, é meu desejo.” Mas entendemos quenosso desejo foi construído socialmente e nesse limbo entre arte e pornô, há movimentos que o afirmam como espaço de disputa, e é por aí que fluem os pornôs feministas, pós-pornôs e pornôs desviantes, tecendo críticas ao mesmo tempo que se estabelecem como fazedores de realidade.

 

M: Recentemente, juntes com o coletivo Revolta, organizaram o MAKE ME CAM: TE COVID A GOZAR, onde trataram sobre as questões do isolamento social nas dissidências sexuais. Podem falar um pouco da experiência?

E: O processo de construir o ciclo foi muito bacana. Foi uma proposta que surgiu do Coletivo Revolta em parceria com o curador Guilherme Teixeira. Foi sobre discutir e experienciar esse lugar em que a arte e a pornografia dialogam. As ações do Revolta, assim como os PORNOSHOWs habitam esse lugar. Viver esse momento pandêmico está sendo um desafio para todes. Principalmente pra quem trabalha com arte, audiovisual e entretenimento e para as populações marginalizadas por raça, gênero e classe. Essa crise reafirma muito as questões de privilégios e vulnerabilidade e o olhar que temos para a sexualidade é buscando as relações dessas heranças colonialistas com nossos desejos e prazeres, então elaborar essas questões por meio de trabalhos artísticos construídos e discutidos em coletivo é muito rico. E é também sobre seguir em movimento, apesar da crise e na medida do possível, é sobre gerar energia de vida. Foi muito potente o MAKE ME CAM para dar mais sentido ao que estamos fazendo, fortalecendo a rede de afetos que temos e reinventando o modo como podemos circular e alimentar a cultura e a subjetividade.

M: Além da dissidência sexual, uma das coisas que mais assustam a moral e os costumes dos cidadãos de bem falsos moralistas são as práticas escatológicas, mesmo assim tem uma quantidade absurda de gente que adora este babado mas fica numa espécie de armário. No campo do pospornô no Bra$sil, tem a Kali, do DF, com uns vídeos deboches sobre a menstruação, a Bruna Kury, de SP, tem um trampo de bosta com gliter, entre outres. Enfim, vocês pensam em explorar esta categoria? Já tem algo saindo do forno neste sentido?

E: Certamente! A gente tem alguns vídeos online que envolvem mijo e um da série Autoprazer (série dedicada à masturbações de autoexploração) com merda – que é um pouco tímido em relação à scat, mas é algo. Está em processo de edição outro vídeo de Autoprazer com sangue de menstruação e ainda pretendemos explorar muito mais esse campo, performers com tesão nisso nós temos! Nós também exploramos bastante a escatologia nas ações PORNOSHOW, quase sempre envolvemos mijo (uma das ações que ficou mais conhecida foi a que viralizou como Golden Shower), também já cagamos em cena e já rolou performances com sangue. Entrando nesse lugar em que a arte adora, podemos interpretar a escatologia como uma prática que rompe com as lógicas do capitalismo branco classista. A normalização compulsória imposta pelo sistema fez a gente odiar nossos corpos fora do padrão, fez com que sentíssemos nojo dos próprios cheiros e fluídos e vergonha de certos desejos e prazeres. O bloqueio das sexualidades desviantes é parte do higienismo social que faz a manutenção do racismo e das fobias estruturais. É o mesmo higienismo que faz os planos urbanísticos marginalizarem vidas não abastadas, em crescente expansão pela especulação imobiliária, que é responsável por tomadas de terras indígenas, chacinas em periferias e suicídios de pessoas sexo-gênero dissidentes. Então, podemos dizer que a escatologia é muito potente como simbologia e tecnologia de resistência.

M: Aqui no Brasil, existe um estigma muito violento contra as pessoas que vivem com HIV, sobretudo quando estas exercem trabalho sexual, seja na prostituição, seja no audiovisual. Visibilizar pessoas que convivem abertamente com o vírus em práticas sexuais com pessoas localizadas ou não com vírus, tendo em vista o efeito pedagógico da pornografia, pode contribuir para a autoestima e propagação do debate sorológico?

E: Sim, de fato, o estigma em relação ao HIV-AIDS e às pessoas soropositivas ainda está muito presente no Brasil. A grande maioria das pessoas, inclusive LGBTQIA+, não estão acompanhando os debates sorológicos e os avanços das possibilidades de tratamentos com antirretrovirais ou métodos de prevenção como PREP e PEP (profilaxia pré-exposição e profilaxia pós-exposição). Essa falta de informações sobre o tema é a principal aliada para que o espectro em torno do HIV-AIDS siga sendo aquele dos anos 1980: temor em relação à infecção pelo vírus, associar as pessoas soropositivas à morte ou fragilidade, receber a notícia da infecção como uma sentença de morte ou sentindo auto repulsa, a recusa em ter relações sexuais com pessoas convivendo com HIV… Nós temos sorte de trabalhar em meio sexo-gênero dissidente que está fomentando o diálogo em relação à temática e acompanhando as discussões atuais sobre o tema. Sendo assim, não podemos deixar de comentar que quando falamos sobre HIV-AIDS é fundamental falarmos sobre questões raciais e de classe, pois hoje ainda há um grande número de pessoas que não conseguem acessar os tratamentos e a população preta e de baixa renda é a que mais morre por consequências da AIDS hoje. Então nós como uma plataforma que trabalha com sexualidades, planejamos circular variados materiais sobre HIV-AIDS na cessão de Diversos que é aberta ao público para poder informar e fomentar por meio de textos, vídeos e podcasts essa discussão urgente. 

Respondendo mais diretamente à questão, é fundamental que a gente quebre o imaginário herdado pelo apelo midiático dos 80. Uma estratégia para isso é investir nas mudanças das narrativas que envolvem HIV-AIDS, e nesse sentido a pornografia tem muito a contribuir ao criar ficções que abordem o tema sem tabus e com informações sobre métodos de prevenção ou sobre a possibilidade de tratamento hoje, a impossibilidade de transmissão quando se está indetectável, que são informações que podem ajudar para que a autoestima das pessoas soropositivas não seja afetada pela convivência com o vírus ou pela desinformação alheia (que sabemos que resulta em situações violentas). Nós temos um vídeo que está online que chama Blue Shower, e traz a temática da PREP como alternativa de prevenção. São imagens de uma sapatona (Renatame) fazendo um shibari num viado (Gugu), ele desfruta do prazer de estar imobilizado e recebendo uma chuva de pílulas azuis, Renatame bate nele com um chicote de camisinhas cheias de fluidos, depois ele se deda com uma camisinha interna no cu e mergulha numa água cor PREP. Acho que associar essas imagens ao prazer é contribuir com o debate sorológico, é trazer pro âmbito pornô o prazer de pensar e cuidar da nossa saúde sexual. Pretendemos explorar muito mais e de diversas formas essa temática em futuras produções.