7 Marchas dissidentes do Orgulho LGBT na América Latina

Emma Álvarez Brunel
Tradução: Grupo de Estudos Anarquistas Maria Lacerda Moura
Revisão: Monstruosas

Em 28 de junho de 1969, o bar Stonewall Inn foi cenário de um enfrentamento entre policiais e pessoas trans, travestis, lésbicas e bichas. Daí a cada ano se celebra em junho a marcha do Orgulho LGBT.

O bar Stonewall Inn, localizado em Nova Iorque, acolhia a pessoas sexodissidentes, marginalizadas por sua condição de classe e raça, acolhiam muitas latinas e afrodescendentes, pessoas sem teto, etc. A polícia fazia constantes batidas a este espaço para deter travestis e pessoas sem documentos, como forma de “limpeza social”. Essa noite, a raiva e o cansaço pela perseguição levou às pessoas que frequentavam o bar a resistir às prisões e ao fechamento do bar, exigindo espaços para visibilizar a diversidade sexual e de gênero. Os enfrentamentos duraram mais de 2 dias e agruparam mais de 2 mil manifestantes contra 400 policiais. A partir deste incidente se realizaram importantes manifestações de rua, como a primeira marcha do orgulho LGBT um ano depois, na cidade de Nova Iorque, organizada pela Gay Liberation Front (Frente de Liberação Gay), e se formaram coletivos políticos travestis, gays e lésbicos.

Na cidade do México, a primeira Marcha do Orgulho LGBT acontece no ano de 1979, mesmo ano em que se pubica “Ojos que da pánico soñar”, de José Joaquín Blanco. Este texto, que seria considerado um manifesto homossexual, criticava a normatização da diversidade sexual, através da imitação da heterossexualidade monogâmica, sem se aventurar a se inventar outras vidas fora desse esquema. Denunciava ademais a falta de justiça e as alianças que os homossexuais de classe média faziam com sua própria classe em vez de com os homossexuais pobres. Por último convocava para o prazer radical e a união entre “a cama e o trabalho, a intimidade e a política, o ato sexual e a solidariedade humana”.

Atualmente, as marchas do Orgulho ocorrem em muitos países, mas sabemos que seu sentido mudou significativamente. Em anos recentes marchamos junto a bares, empresas que se dizem LGBTI friendly, embaixadas de países como Estados Unidos e Israel, instituições do governo e partidos políticos, nos quais, em vez de celebrar sua participação, devíamos estar jogando tinta na cara. Muitas vezes, nas convocatórias às marchas se leem comentários que reforçam a misoginia, a homo/lesbo/transfobia e o desprezo por quem não respeita “os bons costumes”.

Em vez de nos juntarmos para celebrar o capitalismo rosa, sentimos necessidade de seguir mostrando a raiva frente aos feminicídios e aos crimes de ódio, a violência sexual, as violências que vivemos no dia a dia, a falta de justiça, e seguir nos organizando contra este sistema de morte. Hoje compartilhamos alguns exemplos de protestos dissidentes das marchas oficiais do Orgulho LGBT na América Latina, esperando poder ampliar a lista com mais informação de quem tenha conhecimento de manifestações deste tipo ou com manifestações futuras. Esperamos ademais, que sigamos construindo a partir da raiva e da crítica, a dissidência e a autogestão, antimercado rosa e sem Estado.

1. Cidade de México, 2014.
No ano de 2014, o Bloque Rosa (Bloco Rosa) publicou dois artigos em Djovenes, em sua coluna quinzenal Transtextual: “La marcha del orgullo está secuestrada” e “Transformar la marcha del Orgullo”, sobre a corrupção do Comitê Organizador da Marcha do Orgulho LGBTTTI e a necessidade de seguir mostrando a raiva contra as violências e os crimes de ódio que vivem as pessoas dissidentes do regime cisheterossexual. Como resultado disso, alguns membres do dito Comitê renunciaram. Além disso, organizou-se um contingente feminista-dissidente que encabeçou a marcha e denunciava a falta de justiça nos casos de Edgar Sora, Yakiri Rubio, Agnés Torre, Alejandra Gil, entre outros. Neste contingente participaram coletivos como Bloque Rosa, Gafas Violetas1, Anarcoqueer, Coletivo Poliamor, AVE de México, Maricas AntiesCiudad de México, 2014.pecistas, Puta Colectiva, Hombres XX, etc. Recomendamos verificar aqui o texto lido ao início da marcha do Orgulho desse ano. E aqui um vídeo onde podem ver algumas imagens da agitação. Mais adiante, a revista Proceso lançaria um artigo criminalizando a resistência antiassimilacionista por “vandalizar do Hemiciclo a Juárez” e as coletivas responderiam neste comunicado.

2. Buenos Aires, Argentina, 2016.
Em 26 de novembro de 2016, um grupo de coletivas feministas se organizam para intervir na marcha do orgulho em Buenos Aires, fazendo um contingente. Entre as participantes estavam Colectiva Lohana Berkins, Democracia Socialista, Desde el Fuego CABA, Furia Trava, HIEDRAH Club de Baile, Independientes, Partido Comunista, Tortas de Barrio e FOL em La Brecha.

As participantes deste contingente anunciaram seu descontentamento porque os organizadores oficiais da marcha tinham alianças com o Estado, algo com que não se identificavam, como mostra a entrevista de rádio a Nicolás Cuello.

Entre suas palavras de ordem estavam Macri (o presidente argentino) é fome, ajuste e repressão! Basta de travesticídios (como o ocorrido contra a ativista travesti Diana Sacayán)! Migrar é um direito humano! Separação da Igreja e do Estado! E Aborto legal, livre e gratuito!

Denunciavam também a precarização da vida pelo desemprego, a inflação, o empobrecimento, o desmantelamento de programas sociais, a discriminação no trabalho e em outros ambientes, o aumento da repressão e a intervenção pública da Igreja Católica contra os direitos das mulheres e das pessoas da diversidade sexual. O comunicado completo pode ser lido aqui.

3. Rubias Para El Centenrario, Santiago, Chile, 2011.
Para a marcha do Orgulho na capital chilena em 2011, realizou-se o protesto “Rubias para el Bicentenario”. Na ação a Colectiva Universitaria de Disidencia Sexual (CUDS) organizou uma “peluquería de barrio” (‘salão de beleza de bairro’) onde descoloriam o cabelo das pessoas que queriam e as convidavam a mudar de nome. Esta ação era uma crítica ao ideal de sujeito nacional, que evidencia o branqueamento do mestiço, no contexto da celebração do bicentenário da independência chilena. Desta maneira, faziam uma crítica também ao pensamento de direita racista e classista, tão presente na “comunidade LGBT”. O vídeo de “Rubias para el bicentenario” pode ser visto aqui.

4. Fin De Este Orgullo Principio de Nuestro Caos, Neuquén, Argentina, 2016.
Com o titulo “FIN DE ESTE ORGULLO, PRINCIPIO DE NUESTRO CAOS”. o agrupamento de lésbicas “Potencia Tortillera”2 convocou um contingente em Neuquén, Argentina.

Parte do pronunciamento critica o fazer político das organizações LGBT: “Porque as organizações lgbttti escolhem disputar espaços nas instituições estatais, enclausurando e confinando nossos corpos, nossas vidas e desejos em leis e políticas de igualdade. Porque propõem o Estado como fiador dos afetos. Porque decoram com luzinhas coloridas as paredes do prédio do governo onde recordamos com pichações os nomes dxs mortxs, deixando nas sombras a memória púbica de nossas dores, ao mesmo tempo que essas mesmas paredes protegem aos assassinos.” Continuam com uma crítica que o Orgulho nos leve à normatização e a buscar o matrimônio, enquanto elas, sapatas feministas, propõem o caos. “CAOS porque nossos corpos e desejos transbordam, explodem, contaminam tudo, querem tudo. Porque nossos suores, salivas, fluxos, raivas não cabem nas suas leis”.

O texto completo com imagens pode ser lido aqui.

5. Acampe Travesti, Buenos Aires, Argentina, 2009.
Na noite anterior à marcha do Orgulho LGBT de Buenos Aires, um grupo de coletivas e ativistas organizaram um acampamento na Plaza de Mayo para denunciar a situação de violências que vivem as travestis na Argentina, nas palavras da ativista Lohana Berkins “as irmãs mais pobres e castigadas da comunidade”. Enfatizaram que 70% das travestis argentinas não terminam a escola primária e a expectativa de vida entre esta população é de somente 32 anos.

Também insistiram em recuperar a marcha de sua mercantilização para fazer dela um espaço de luta. Para a noite se programaram diversos eventos, como uma coletiva de imprensa, oficinas de construção de memória coletiva trans, música, performance, etc. O pronunciamento se encontra aqui.

Na manhã seguinte participaram como “contramarcha” dentro do evento oficial, tendo palavras de ordem e posturas antipatriarcais e anticapitalistas, como se pode conferir no seguinte link.

6. Contramarcha, Ciudad de México, 2016.
Depois de se fazer uma assembleia feminista e das dissidências de sexo e de gênero, convocou-se uma contramarcha.

Enquanto a marcha oficial se iniciava, caminhando sobre a Avenida Reforma, em direção ao centro da cidade, foi interrompida à altura do senado da República por grupos feministas e dissidentes que formavam a contramarcha, que impediram a passagem dos carros alegóricos por alguns minutos para ler seu pronunciamento, todes, todos e todas vestidas de preto, encapuchadas, com o punho erguido pintado de roxo.

Entre as grandes críticas que se fazia à marcha oficial estava a insatisfação contra um grupo de ativistas LGBT que havia participado umas semanas antes em uma reunião oficial com o presidente Enrique Peña Nieto, celebrando o fato como “um dia histórico” para a comunidade LGBT.

“Nós não queremos fotos hipócritas ao lado de um assassino. Nós queremos que pare seu regime mortal, sustentado por morte e repressão: de 43 corpos desaparecidos, de milhares de mulheres assassinadas, de professoras e professores espancados, de pessoas que andam em direção ao precipício da precarização, de 10 mortes, 20 mortes, de milhares de narcomortes. Nós não podemos embarcar em seu suposto trem do progresso, nós não marchamos sozinhas, caminhamos acompanhando a outros processos, nos reconhecemos em outras, outros, outres, que não têm justiça, nem verdade: as indígenas, as operárias, as professoras, as migrantes, as feministas, as racializadas, a diversidade funcional3, as outras lutas”, dizia em seu pronunciamento.

Por outro lado, estava a denúncia à Cidade do México, que hipocritamente se declarava “Ciudad LGBT Amigable”: “A cidade também se declara gay friendly. Sua amizade se limita aos gays ricos. Aos corpos normatizados e aceitáveis. Aos bairros gentrificados, os quais utilizam a força policial e econômica para retirar de seus lugares a quem menos tem. Frente a essa realidade que nos segrega e despolitiza, as mortes e os assassinatos continuam. E todavia não há justiça, nem se tem garantido a não repetição dos danos.”

Depois de ler o pronunciamento e cantar algumas palavras de ordem, o grupo de manifestantes avançou em sentido contrário ao contingentes oficial.

7. La Otra Marcha, Chile, 2003
“La Otra Marcha” se organizou pela primeira vez no ano de 2003, quando se apresentaram fortes tensões entre organizações LGBT e o bloco lesbofeminista, ano em que a organização do orgulho decidiu usar o slogan “La patria gay”.

Se repetia no ano seguinte como contingente e em 2005 decidiram marchar como última ala da marcha oficial. monstruosas

No ano passado a crítica foi direta contra as organizações Iguales e Movilh, acusadas de priorizar ao matrimônio entre pessoas do mesmo sexo, enquanto se esqueciam os crimes de ódio. Também as acusava de reproduzir o machismo entre os homens gays, o que resulta em violência e dupla marginalização para travestis e mulheres lésbicas. Pode-se verificar mais informação neste link e neste outro.

Este texto foi publicado em 6 de junho de 2017 no site Joterismo: Feminismos Jotos e Analquismo traduzido livremente pelo Grupo de Estudos Maria Lacerda de Moura e revisado pela Monstruosas.

1 Faz referência à metáfora das ‘lentes violetas’. Trata-se de como o feminismo te faz perceber violências e nuances da realidade patriarcal que não percebíamos antes.Faz referência à metáfora das ‘lentes violetas’. Trata-se de como o feminismo te faz perceber violências e nuances da realidade patriarcal que não percebíamos antes.

2 O termo tortillera e variações como torta e tortera são xingamentos usados em regiões onde se fala espanhol para se referir a lésbicas, recentemente foram ressignificados por movimentos sociais e coletivos como ‘Tortas de Barrio’ e ‘Potencia Tortillera’, de forma análoga à palavra portuguesa sapatão.

3 Diversidad funcional é uma alternativa a termos pejorativos como “discapacidad” [deficiência/incapacidade] que tem começado a se utilizar por iniciativa das próprias pessoas afetadas nas regiões onde se fala espanhol.

[CHAMADA DE COLABRAÇÃO SOLIDÁRIA] Vem aí, MONSTRUOSAS: Tesões apokalíptikos nas ruínas do heterocapitalismo

Em junho de 2017 a Distro Dysca, realiza a 2ª edição da Monstruosas, desta vez focando nos tesões apocalípticos que se fortalecem desprezando a falocracia da masculinidade tóxica e civilizada. Gozar em cima das ruínas da heterossexualidade e da família nuclear androcentrada é um ato que transforma os esforços para demolição do heterocapitalismo em um orgasmo lascivo, sendo as vivências e as práticas dissidentes um vírus que se propaga contaminando os corpos com a descolonização dos desejos e afetos. Nossos prazeres e a forma como se alcança-os também são políticos e fazem parte de uma subversão estrutural a cerca do controle biopolítico dos corpos.

O evento está sendo todo organizando sob protagonismo dissidente em perspectiva colaborativa, horizontal, autônoma e solidária. Serão dois dias de intensas atividades com oficinas, rodas de diálogos, sessões de tatoo e piercing, lançamento do livro A Porca Punk, lançamento de zines, mostra de vídeos e performances, além de uma festa de confraternização que catalisará as pulsões emergidas neste grande encontro. Com a participação de ativistas, artistas, performers e pornoterroristas, os trabalhos e debates selecionados para compor a programação, são realizados por companheires do Brasil, México, Argentina, Chile e Peru, retratando uma disparidade estética e propositiva que tem na visibilidade das sexualidades e gêneros dissidentes uma arma humanicída que infecta os corpos heteronormativos autocompreendidos como poderosos, verdadeiros, definitivos e hegemônicos.

Nossos custos de produção envolvem:

  • O transporte das facilitadoras e performers que se encontram em regiões diferentes do Brasil, bem como transporte urbano para circulação e compra de materiais para as oficinas.
  • A tradução de textos, diagramação e tiragem dos zines que serão lançados pelas monstruosas como Agitporn, Localização Política da AIDS, Contra o Quebranto Sobre o Corpo Monstruoso, Gordas e Anti Especismo e Mastrubação Mental;
  • O aluguel de material para exibição de vídeo como projetor e telão
  • Impressão de folders e cartazes de divulgação que serão espalhados em regiões periféricas da cidade.
  • Ajuda de custo para alimentação e hospedagem das companheires de forma que não sobrecarregue o orçamento e a organização cotidiana das amigas que forneceram suas casas, na periferia de Recife, para hospedagem e troca de vivências.

A 1ª Monstruosas, contou com doações colaborativas e um almoço solidário realizado pela Dhuzati Coletiva Antiespecista Artesanal. Devido à experiência exitosa estamos convidamos amigues e demais apoiadorxs da rede sexodissidente e anticapitalista para contribuir financeiramente com este projeto, objetivando o acesso gratuito à todas nossas atividades.

O festival será condensado na seguinte programação: MoNSTRaMostra Nordestina de Sexualidades e Travestigeneridades em Resistência no Audiovisual; Danzando en Revolta; eXXXcitadesoficinas de shibari, debates transsexuais, tatoos e piercing; Montaria TheMônia Anticivilizatória e Lançamento do livro A Porca Punk + lançamento de zines. As doações podem ser feitas através de depósito no Banco do Brasil na seguinte conta:

A. Buarque de Souza
CPF: 048.656.864-44
AG. 1245-9
CC 45990-9

Por ser um projeto autônomo, nossa contrapartida para esta chamada se dá pela própria realização do evento que ocorrerá na periferia de uma grande cidade do nordeste brasileiro, como estratégia de sair de um centro tomado pela gentrificação, priorizando o recorte de classe nas perspectivas críticas a cerca dos comportamentos sexuais e de gênero. Nosso foco é o fortalecimento dos corpos monstruosos e racializados que se encontram fora das grandes instituições de produção instrumental de conhecimento, reconhecendo as inspiradoras experiências de resistência, criação e pirataria construídas desde as situações de exclusão familiar, trajetórias na prostituição, até o enfrentamento contra às violências resultantes da expansão cristã neopentecostal nas periferias e da supremacia machulenta.

SELEÇÃO DE FILMES: MoNSTRA Intinerante POA

A MONSTRAMostra Nordestina de Sexualidades, Travestilidades e Resistência no Audiovisual – chega em Porto Alegre trazendo um pouco de cultura de resistência sexo dissidente para propor além de outro mundo, outros desejos possíveis.

A Uma movimentação política que utiliza a arte como ferramenta de contestação às culturas hegemônicas de sexualidade, gênero e resistência. Em perspectiva anarquista, aborda vozes periféricas às indústrias da arte e do audiovisual, reunindo produções independentes do Brasil e América Latina.

Articuladas com o Pornífero Festival que acontece desde 2014 na cidade de Lima, no Peru; com a FILMARALHO produtora audiovisual independente radicada na Cidade do México; com o Coletivo Coiote de ação-direta pornoterrorista anti-arte; e com a Distro Dysca produtora independente de movimentações político-culturais combativas, buscamos reunir materiais artísticos que questionem a binarismo de gênero e seus esteriótipos, a heterossexualidade compulsória enquanto regime político, além do machismo e o sexismo enquanto culturas opressoras intrínsecas em nossos corpos. Tais materiais trazem questionamentos, propostas e possibilidades de descolonização e emancipação através de experimentações registradas e ações que combatem essas opressões.

Curtas, médias e longas-metragens, videoperformances, video-arte, registros e demais manifestações audiovisuais além de performances e debates constroem uma programação que põe o corpo no centro da mandala dos desejos.

SELEÇÃO DISTRO DYSCA:
Seleção de filmes enviados à convocatória da Distro Dysca, plataforma de agitação cultural crítica em perspectiva anticolonial, anticapitalista e antisexista

SELEÇÃO FILMARALHO
Produtora audiovisual independente radicada na Cidade do México, que visa a fomentação, circulação e discussão de filmes cuja temática tangencia a problematização de diferentes questões estéticas, sexuais e políticas.

SELEÇÃO PORNÍFERO:
O Pornífero Festival acontece desde 2014 na cidade de Lima no Peru com objetivo de apresentar liberdades visuais derivadas de práticas radicais em um contexto ibero-americano, que tem mudado através de uma lógica histórica repleta de regimes políticos assassinos e ditatoriais, instalado comodamente em um sistema pro capitalista neocolonial cuja característica principal é a tecnologia.

SELEÇÃO COIOTE:
As performances do Coletivo Coiote abrangem temas como violência de gênero e colonização do corpo expressos de forma a acionar sensações bastante fortes quando levadas às manifestações.

SERVIÇO:
MoNSTRA – Mostra Nordestina de Sexualidades e Travestilidades em Resistência no Audiovisual | Itinerância em POA
1º de Abril às 18h
Casa Frasca – Av. Independência, 406, Porto Alegre, RS

Professores do Departamento de Comunicação da UFPE se posicionam contra o livro sobre Heterofobia

Professores do Departamento de Comunicação da UFPE, soltaram nota repudiando com muita veemência a publicação e publicização do livro de Ademir Ferraz. A nota registra a informação que no Brasil a cada 27 horas dissidentes sexuais são agredidos, contudo, não menciona diretamente à violência física sofrida pelas ativistas a mando de Ademir.

Segue abaixo a nota:

Nós, professores do Departamento de Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) abaixo assinados, repudiamos com muita veemência a publicação e publicização de um ‘livro’ que traz, sem qualquer embasamento da ciência, lógica ou bom senso, a ‘tese’ de que a homossexualidade é uma patologia – contrariando orientação da Organização Mundial de Saúde (OMS), entre outros organismos internacionais. Ainda, sugere a existência de um suposto comportamento criminoso que o ‘autor’ intitula de “heterofobia” (sic).

Não bastasse o absurdo da proposição, a referida publicação teve lançamento esta semana nas dependências de uma instituição pública, a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), órgão de ensino e pesquisa que, por razões óbvias, certamente não deve apoiar e/ou incentivar comportamento discriminatório e anti-científico de seu corpo docente.

A referida obra surge num momento em que a violência contra a população LGBT está numa crescente. Segundo o Relatório Anual de Assassinatos de Homossexuais no Brasil, elaborado pelo Grupo Gay da Bahia, a quantidade de casos dobrou na última década. Em 2014, foram assassinados 319 gays, travestis e lésbicas no Brasil e nove cometeram suicídio. Os números equivalem a um caso a cada 27 horas, de acordo com o levantamento. Em 2004 foram registrados 149 assassinatos.

Assim, reiteramos nosso total repúdio a ações dessa natureza, e ressaltamos que universidades públicas têm papel fundamental na formação de profissionais e pesquisadores que atuem em consonância com princípios éticos e de respeito às diferenças.

Adriana Santana
Ana Veloso
André Vouga
Angela Prysthon
Bruno Nogueira
Carolina Dantas
Cristina Teixeira
Eduardo Duarte
Fernanda Capibaribe
Isaltina Mello Gomes
Rodrigo Carreiro
Soraya Barreto
Thiago Soares
Yvana Fechine

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[ERRATA] Agressão e violência no lançamento do livro sobre heterofobia na UFRPE

A denúncia de agressão faz uma referência ao vice-reitor da UFRPE Marcelo Carneiro Leão, publicando que na ocasião em que Ademir proferiu o post homofóbico, Marcelo teria se posicionado contrário a atitude do docente, apesar de ter afirmado ser a favor da liberdade de expressão.

Na realidade a nota oficial da UFRPE diz condenar veementemente quaisquer formas de preconceito e que iria apurar as ocorrências para tomar as providências cabíveis, garantindo amplo direito de defesa e manifestação a todas as partes. O texto foi corrigido.

1) A UFRPE e sua Administração condenam veementemente quaisquer formas de preconceitos e discriminações, sejam de gênero, raça, classe, orientação sexual, entre outras;

2) Os comentários atribuídos ao referido docente manifestam opinião de ordem pessoal, em espaço pessoal, não institucional, criado de forma privada, que não possui nenhuma ingerência ou responsabilidade direta da UFRPE;

3) A UFRPE, a partir das demandas registradas em suas esferas oficiais de comunicação e participação, irá apurar as ocorrências e tomar as providências cabíveis, garantindo amplo direito de defesa e manifestação a todas as partes.

A UFRPE está à disposição da sociedade para eventuais esclarecimentos.

II Semana da Mulher: Lesbianidade e Luta

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O Coletivo Feminista Diadorim convida a todas e todos para a sua II Semana da Mulher que terá como temática central Lesbianidade e Luta! A semana ocorrerá do dia 27 ao dia 30 de abril, com painéis no campus da UFPE e na Faculdade de Direito do Recife (FDR). A programação:

– SEGUNDA (27/04) – INVISIBILIDADE DA MULHER BISSEXUAL – FACULDADE DE DIREITO DO RECIFE (FDR) – 19H – AUDITÓRIO TOBIAS BARRETO. – Facilitadoras: Cecília Cuentro e Ju Dolores ( Marcha das Vadias )

– TERÇA (28/04) – SAÚDE SEXUAL DA MULHER LÉSBICA – CFCH – 16:30H . Auditório do terceiro andar do CFCH – Facilitadoras: Ana Melo, Suelly Oliveira e Brisa Lima.

– QUARTA (29/04) – FEMINISMO LÉSBICO NEGRO – CCSA – 16H. Facilitadora: Beca Nascimento ( Marcha das Vadias ).

– QUARTA (29/04) – ANTICAPITALISMO – FACULDADE DE DIREITO DO RECIFE (FDR) – 19H. Facilitadoras a confirmar.

– QUINTA (30/04) – CINECLUB PORNÔ LÉSBICO: PAPEL DA MULHER LÉSBICA NO CINEMA LOCAL – CAC – 16H. ( ****O painel é destinado apenas para mulheres **** )

Mais informações: https://www.facebook.com/events/362068943983437/

Nota de esclarecimento do Diretório Acadêmico de Ciências Sociais – UFRPE.

No dia 19 de março, um aluno da UFRPE realizou uma intervenção artística com conteúdo político, no Centro de Ensino e Graduação – CEGOE. A atenção e as críticas de muitos estudantes e da comunidade acadêmica se voltaram para isso nas últimas semanas, pois na performance houve elementos pouco convencionais para o cotidiano da UFRPE, como nudez, por exemplo.

A título de esclarecimento, o aluno referido estava contribuindo na organização de um debate de gênero que fazia parte da programação da Semana do Calouro de Ciências Sociais da UFRPE 2015.1, organizada pelo Diretório Acadêmico de Ciências Sociais – DACS. A performance estaria dentro da programação no dia do debate de gênero, porém, o DACS optou por não incluí-la imaginando que pudesse haver resistência tanto por parte dos calouros, quanto pelo Departamento de Ciências Sociais – DECISO. Nós acreditamos que há diversas formas de desconstrução, mas no momento preferimos ser cautelosos, devido à própria fragilidade do DACS, que passou anos de portas fechadas e ainda está se reestruturando e tomando corpo político-institucional. No entanto, mesmo com a divergência de método de desconstrução, nós defendemos a liberdade de expressão do estudante e achamos que é válida sua intervenção.

Durante o acontecimento, um segurança da universidade apresentou despreparo para lidar com a situação, afirmando que o estudante em questão merecia apanhar, pois se apanhasse jamais geraria tais “aborrecimentos” e fez outros comentários de conteúdo machista, homofóbico e transfóbico – chegou mesmo a comentar que os estudantes do curso de Ciências Sociais não mereciam defesa por parte da segurança da universidade. A Reitoria da Universidade sinalizou posteriormente que puniria o estudante e encaminharia o caso à Polícia Federal, por considerá-lo um crime.

Nós do DACS, acreditamos que não estamos num momento onde caiba a imparcialidade, sendo assim, gostaríamos de debater com o conjunto dos estudantes e com a comunidade acadêmica nosso posicionamento e nossa movimentação sobre os fatos políticos que cercam este acontecimento.

Em primeiro lugar, alertamos que a atitude do segurança foi um caso de homofobia, que reflete não apenas despreparo, mas a ideia profundamente perigosa que circula em nossa sociedade de que pessoas de orientação sexual ou identidade de gênero1 diferente do padrão não são respeitadas. Longe de ser uma opinião pessoal, a homofobia é uma questão social: nós do DACS não responsabilizamos individualmente o segurança que fez os comentários, e por isto levamos este alerta à Comissão de Direitos Humanos da UFRPE, juntamente com a exigência à reitoria de que haja cursos de formação continuada que preparem os profissionais da UFRPE para lidar com as diferenças de orientação sexual, gênero, raça, identidade de gênero, enfim, com a diversidade que só vem a contribuir na nossa universidade.

Sabemos que uma boa parte da comunidade acadêmica considera a performance desnecessária ou mesmo agressiva, mas gostaríamos de lembrar o quanto a liberdade de expressão é essencial dentro e fora das instituições de ensino, e como ela foi conquistada a duras penas. Atualmente, alguns movimentos sociais utilizam a nudez como ferramenta de desconstrução para sua luta – embora possa haver discordâncias quanto à efetividade desse método, a punição destes ativistas seria um ataque à democracia e aos seus valores. Gostaríamos de lembrar também que nas universidades do país afora este tipo de intervenção ocorre comumente e não é possível que apenas na nossa universidade isso vire um caso de polícia. Por isto, consideramos errada qualquer punição ou encaminhamento do estudante à Polícia Federal. Em caso de dúvida sobre a ocorrência ou não de um crime, aconselhamos o acompanhamento das últimas decisões das instâncias superiores da Justiça brasileira, que tendem a não tratar casos semelhantes como conduta criminal, uma vez que a intenção (“dolo”) não seria de ferir o pudor alheio, mas de realizar uma atividade de caráter artístico e político. Um exemplo é uma decisão do STF sobre o fato de não caber o enquadramento penal em situação semelhante, na qual se discute sobre a caracterização da ofensa ao pudor público (se houve ou não crime) e se conclui que, dentro do contexto, “a discussão está integralmente inserida no contexto da liberdade de expressão, ainda que inadequada e deseducada. A sociedade moderna dispõe de mecanismos próprios e adequados, como a própria crítica, para esse tipo de situação, dispensando-se o enquadramento penal”2

• Repudiamos o despreparo da segurança da UFRPE e A POSSÍVEL CRIMINALIZAÇÃO da intervenção, considerando como um ataque à LIBERDADE DE EXPRESSÃO em toda sua diversidade;
• Por um movimento estudantil unido na defesa da liberdade de expressão!
• Pelo aprofundamento no debate com o conjunto da universidade sobre o combate às ideologias machistas, racistas, homo, lesbo, bi e transfóbicas!

1 Identidade de gênero: gênero com o qual o indivíduo se identifica, não necessariamente tem a ver com os órgãos genitais ou com o gênero que lhe foi atribuído em seu nascimento.
2 BRASIL. Superior Tribunal Federal. Habeas-corpus no 83996 RJ. Relator: VELLOSO, Carlos. Publicado no DJ 26-08-2005.

Diretório Academico de Ciências Sociais UFRPE entende denúncia e questionamento político como declaração de guerra

10835078_347887075401760_443395399268821326_oApós a publicação da nota de repúdio realizada por ativistas da dissidência sexual sobre a censura de uma performance artística na semana no calouro de ciências sociais, o DACS/UFRPE expulsa a ativista do grupo de articulação numa rede social, por considerar o questionamento e as denúncias apresentadas uma declaração de guerra política.

A posição que o diretório acadêmico vem tomando desde que decidiu impedir de forma autoritária, arbitrária e conservadora uma performance artística sobre dissidência sexual, transexualidade e crítica a indolência racional expõe uma tensa problemática sobre a impossibilidade de questionar e denunciar os fazeres políticos desta coletividade sob as penas de expulsão e estigmatização, fechando-se ao diálogo e negando em emitir opinião sobre as denúncias declaradas.

A ação do DACS/UFRPE e as justificativas dadas para censura da perfomance abre precedentes perigosos, ameaçando a construção da luta pela liberdade e agindo diretamente na invisibilidade de discursos anti-hegemônicos apenas por estarem preocupados com uma boa imagem instuticional em detrimento aos interesses de quem se diz representar.

Professora da área de política declara posição sobre a performance realizada na UFPRE

AOS INTEGRANTES DA COMUNIDADE ACADÊMICA DA UFRPE

EM VIRTUDE DA POSTAGEM NO MEU FACEBOOK SOBRE A PERFORMANCE REALIZADA POR ALUNOS DA UFRPE, NA SEMANA DE CALOUROS, QUERO INFORMAR QUE:

NÃO ASSISTI ESSA MANIFESTAÇÃO, E, PORTANTO, NÃO ME SINTO COM CONDIÇÕES DE OPINAR DE FORMA MAIS CLARA E PRECISA SOBRE O OCORRIDO, MAS TENHO ALGUMAS CONSIDERAÇÕES A FAZER PARA REFLEXÃO DA COMUNIDADE ACADÊMICA:

1. QUE SEJA ASSEGURADO AS PESSOAS ENVOLVIDAS NO OCORRIDO O DIREITO AO PRINCIPIO DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA, QUE É ASSEGURADO A TODOS PELO ARTIGO 5º, INCISO LV DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA – “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”;

2. E, SEJA OBSERVADO O CONSTANTE NO INCISO IX DO MESMO ARTIGO DA CF QUE REZA “ é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”.

3. SEGUNDO FUI INFORMADA, DURANTE A PERFORMANCE NÃO OCORREU LESÃO, NEM AMEAÇA AOS DIREITOS, NEM FOI FERIDA A INTEGRIDADE FÍSICA NEM MORAL DE TERCEIROS.

4. QUERO DECLARAR QUE JÁ FUI PROFESSORA DE UM DOS ALUNOS QUE APRESENTOU A PERFORMANCE E, QUE SÓ TENHO A ELOGIAR SEU COMPORTAMENTO EM SALA DE AULA. E, QUE MESMO DEPOIS DE TER SIDO SUA PROFESSORA SEMPRE RECEBI DELE UM TRATAMENTO AMIGÁVEL, INCLUSIVE HÁ CERCA DE UM ANO ATRÁS CONCEDI NA SEMANA DA CALOURADA DE CIÊNCIAS SOCIAIS UM ESPAÇO NA RODA DE DIÁLOGOS, PARA QUE ELE PUDESSE EXPOR SUAS POSIÇÕES ANTIPATRIARCAIS E ANTICAPITALISTAS. E, TUDO OCORREU DE FORMA TRANQUILA.

5. SEMPRE RESPEITEI A POSIÇÃO POLÍTICA E SEXUAL NO DISCENTE;

6. EM TESE, CONSIDERO QUE A UNIVERSIDADE TEM QUE ABRIGAR UM ESPAÇO PARA AS MAIS DIVERSAS MANIFESTAÇÕES POLÍTICAS, CULTURAIS, ANTIPATRIARCAIS, FEMINISTAS TRANSEXUAIS E DE TRANSGÊNEROS. E, QUE, DESCONHEÇO EXISTIR NA UFRPE UM ESPAÇO ACADÊMICO DE DISCUSSÃO E PESQUISAS QUE PROPICIEM REFLEXÕES SOBRE O TEMA.

7. QUE SE CONSTITUI UMA HIPOCRISIA NEGAR O CARÁTER MACHISTA, PATRIARCAL E HOMOFÓBICO EXISTENTE NA SOCIEDADE BRASILEIRA, SOBRETUDO A NORDESTINA, QUE LEVA A UM AUMENTO PROGRESSIVO DA VIOLÊNCIA E ASSASSINATOS CONTRA OS HOMOSSEXUAIS, TRAVESTIS E TRANSGÊNEROS.

8. É FATO QUE, DE FORMA LENTA, MAS CONCRETA AS UNIVERSIDADES VÃO CONCEDENDO ESPAÇOS PARA QUE ESSAS PESSOAS POSSAM SE MANIFESTAREM E SEREM TRATADAS COM DIGNIDADE

9. A SOCIEDADE E O MEIO ACADÊMICO DEVE TER UMA PERSPECTIVA INCLUSIVA, E DE ACOLHIMENTO AOS TRANSEXUAIS, TRANSGÊNEROS. E, QUE A UNIVERSIDADE, SE CONSTITUI UM ESPAÇO, POR EXCELÊNCIA, PARA QUE O ASSUNTO EM TELA SEJA DISCUTIDO E PESQUISADO. ALÉM DE TER A SENSIBILIDADE DE ACOLHER E ACOMPANHAR PSICOLOGICAMENTE OS DISCENTES QUE TEM UMA IDENTIDADE DE GENERO DIFERENTE DA QUAL NASCERAM BIOLOGICAMENTE, OU SE DECLARAM HOMOSSEXUAIS, TRANSEXUAIS ETC. UMA VEZ QUE A SOCIEDADE JÁ OS DISCRIMINA DE FORMA CRUEL.

10. QUE É UMA REALIDADE A AUSÊNCIA DE TRAVESTIS E TRANSGÊNEROS NAS UNIVERSIDADES, EM VIRTUDES DAS DIFICULDADES ENCONTRADAS NOS SEUS COTIDIANOS, E EM TODAS AS ÁREAS DE SUAS VIDAS.

11. EM 2012 A UFPB REALIZOU UM ENCONTRO DO PROGRAMA DE EXTENSÃO INTITULADO “DIVERSIDADE SEXUAL E CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS” REALIZADO EM CONJUNTO PELO NÚCLEO DE DIREITOS HUMANOS (NCDH/UFPB) E, PELO FÓRUM DE ENTIDADES LGBT DA PARAÍBA. O EVENTO FOI COMPOSTO POR RODAS DE CONVERSAS, OFICINAS, MOSTRA ARTÍSTICO-CULTURAL, COM PERFORMANCES, BANDAS DE MÚSICAS E DJs.

12. TAMBÉM O CONSELHO UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSIDADE DE SÃO CARLOS – SP APROVOU, EM 2014 QUE “o nome social, prenome pelo qual travestis e transexuais se identificam e são identificados em relações sociais, deverá ser usado em registros, documentos e atos da vida funcional e acadêmica, como, por exemplo, no cadastro de dados e informações de uso social, nas comunicações internas de uso social, no endereço de correio eletrônico, em documentos internos de natureza administrativo-acadêmica, tais como diários de classe, formulários e divulgação de resultados de processos seletivos, e em solenidades, como entrega de certificados e colação de grau, entre outros”. E, FOI SEGUIDO POR DIVERSAS UNIVERSIDADES EM SÃO PAULO.

13. QUE É MUITO FÁCIL SE POSICIONAR CONTRA PESSOAS QUE A SOCIEDADE DISCRIMINA, PERSEGUE, FINGE QUE NÃO VER E ESTIGMATIZA. AS GENIS DA VIDA, QUE CHICO BUARQUE RETRATOU DE FORMA MAGISTRAL NA ÓPERA DO MALANDRO.

BEM, COMO FUI PROVOCADA PARA ME MANIFESTAR, NÃO POSSO ME ESQUIVAR DE APRESENTAR A MINHA POSIÇÃO ACERCA DO ASSUNTO.

ROSEANA MEDEIROS
Prof. Dra. do DECISO – UFRPE

Feminismo não é humanismo

urlPOR BEATRIZ PRECIADO

Durante uma de suas “conversações infinitas”, Hans-Ulrich Obrist me pede para fazer uma pergunta urgente, que artistas e movimentos políticos deveriam responder em conjunto. Eu digo: “Como viver com os animais? Como viver com os mortos?”. Outra pessoa pergunta: “E o humanismo? E o feminismo?” Senhoras, senhores e outros, de uma vez por todas, o feminismo não é um humanismo. O feminismo é um animalismo. Dito de outro modo, o animalismo é um feminismo dilatado e não antropocêntrico.

Não foram o motor a vapor, a imprensa ou a guilhotina as primeiras máquinas da Revolução Industrial, mas sim o escravo trabalhador da lavoura, a trabalhadora do sexo e reprodutora, e os animais. As primeiras máquinas da Revolução Industrial foram máquinas vivas. Assim, o humanismo inventou um outro corpo que chamou humano: um corpo soberano, branco, heterossexual, saudável, seminal. Um corpo estratificado, pleno de órgãos e de capital, cujas ações são cronometradas e cujos desejos são os efeitos de uma tecnologia necropolítica do prazer. Liberdade, igualdade, fraternidade. O animalismo revela as raízes coloniais e patriarcais dos princípios universais do humanismo europeu. O regime de escravidão, e depois o regime de trabalho assalariado, aparece como o fundamento da liberdade dos “homens modernos”; a expropriação e a segmentação da vida e do conhecimento como o reverso da igualdade; a guerra, a concorrência e a rivalidade como operadores da fraternidade.

O Renascimento, o Iluminismo, o milagre da revolução industrial repousam, portanto, sobre a redução de escravos e mulheres à condição de animais e sobre a redução dos três (escravos, mulheres e animais) à condição de máquinas (re-) produtivas. Se o animal foi um dia concebido e tratado como máquina, a máquina se torna pouco a pouco um tecnoanimal vivo entre os animais tecnovivos. A máquina e o animal (migrantes, corpos farmacopornográficos, filhos da ovelha Dolly, cérebros eletrodigitais) se constituem como novos sujeitos políticos do animalismo por vir. A máquina e o animal são nossos homônimos quânticos.

Já que toda a modernidade humanista soube apenas fazer proliferar tecnologias da morte, o animalismo deverá convidar a uma nova maneira de viver com os mortos. Com o planeta como cadáver e como fantasma. Transformar a necropolítica em necroestética. O animalismo torna-se portanto uma festa fúnebre. Uma celebração do luto. O animalismo é rito funerário, nascimento. Uma reunião solene de plantas e de flores em torno das vítimas da história do humanismo. O animalismo é uma separação e um acolhimento. O indigenismo queer, a pansexualidade planetária que transcende as espécies e os sexos, e o tecnoxamanismo, sistema de comunicação interespécies, são dispositivos de luto.

O animalismo não é um naturalismo. É um sistema ritual total. Uma contratecnologia de produção da consciência. A conversão para uma forma de vida, sem qualquer soberania. Sem qualquer hierarquia. O animalismo institui seu próprio direito. Sua própria economia. O animalismo não é um moralismo contratual. Ele recusa a estética do capitalismo e sua captura do desejo pelo consumo (de bens, ideias, informações, corpos). Ele não repousa nem sobre a troca nem sobre o interesse individual. O animalismo não é a revanche de um clã contra outro clã. O animalismo não é um heterosexualismo, nem um homossexualismo, nem um transssexualismo. O animalismo não é nem moderno nem pós-moderno. Posso afirmar, sem brincadeira alguma, que o animalismo não é um hollandisme. Não é um sarkozysme ou bleumarinisme [NT: Referências a François Hollande, Nicolas Sarkozy et Marine Le Pen]. O animalismo não é um patriotismo. Nem um matrionismo. O animalismo não é um nacionalismo. Nem um europeísmo. O animalismo não é nem um capitalismo, nem um comunismo. A economia do animalismo é um benefício total de tipo não agonístico. Uma cooperação fotossintética. Um gozo molecular. O animalismo é o vento que sopra. É o caminho através do qual o espírito da floresta de átomos ainda alcança os seres que voam. Os humanos, encarnações mascaradas da floresta, deverão se desmascarar do humano e se mascarar novamente do saber das abelhas.

A mudança necessária é tão profunda que se costuma dizer que ela é impossível. Tão profunda que se costuma dizer que ela é inimaginável. Mas o impossível está por vir. E o inimaginável nos é devido. O que era o mais impossível e inimaginável, a escravidão ou o fim da escravidão? O tempo de animalismo é o do impossível e o do inimaginável. Este é o nosso tempo: o único que nos resta.

* Traduzido do francês por Charles Feitosa. Revisão Técnica: Alessandro Sales e Paulo Oneto.

Beatriz Preciado (Burgos/Espanha, 1970) é filósofa, autora de numerosos ensaios e dos livros Manifiesto Contrasexual (Barcelona:Opera Prima, 2002) e mais recentemente de Testo Yonqui: sexo, drogas y biopolítica (Madrid, Espasa-Calpe, 2008). Atualmente ensina Teoria de Gênero na Universidade de Paris VIII, na École des Beaux Arts de Bourges e no Programa de Estudos Independentes do Museu d’Art Contemporani de Barcelona.